#10 O Chicote e o Corpo (1963)


           Ah, Bava, Bava...porque tão esteta?

Produção que integra a fase gótica do Horror Italiano, O Chicote e o Corpo, diferente do que tradicionalmente vimos do gótico mainstream, formado basicamente por adaptações de Roger Corman à Edgar Allan Poe, o filme de Mario Bava, que usa aqui o pseudônimo de John M. Old, acompanha a charmosa, dramática e erótica jornada de amor e vingança de Kurt Menliff (Christopher Lee) e Nevenka (Daliah Lavi). Antes de tudo, é importante dizer que Bava entrou na produção como contratado e não teve participação no roteiro, ficando a cargo de Ernesto Gastaldi e Ugo Guerra, mas ele assina sim a cinematografia e isso faz toda a diferença.

Vamos à trama. Tudo se passa num castelo isolado e decadente, Kurt estava se preparando para se casar com Nevenka, mas seu caso com Tania, filha da empregada da família, é descoberto e ela comete suicídio por não suportar ver seu amado se casando com outra. Já Kurt, rejeitado pelo pai por ter seu caso descoberto, vai embora do castelo e abandona Nevenka. Nesse meio tempo, Nevenka se casa com o irmão de Kurt, Cristiano (Tony Kendall). 

Num belo dia, Kurt volta para o castelo com desejo de reinvindicar o que ele diz ser seu de direito: sua parte da herança e sua ex-noiva. Nevenka e Kurt se encontram na praia e passam a noite juntos regados a beijos, amassos, chicotadas e juras de amor. Misteriosamente, nesta mesma noite, Kurt é misteriosamente assassinado e passa a assombrar o castelo e a querer vingança a qualquer custo. O fantasma de Kurt também passa a fazer visitas a Nevenka que, mesmo assustada, não consegue resistir ao charme e ao chicote do ex-noivo.  

 



O teor sadomasoquista, a história de amor e obsessão e o drama familiar de O Chicote e o Corpo, pode-se dizer que, para a época, soavam até ousados, pois eram temas que não costumavam ser abordados nos filmes mais conhecidos de horror gótico. No encontro de Kurt e Nevenka na praia, ele afirma: “Você ama a violência. Você não mudou”. É o momento da trama em que tudo começa a fazer sentido e a historia vai ganhando mais contornos. Claro que, sendo um Bava, toda a atmosfera que forma um bom gótico está presente, desde a ambientação num castelo exuberante à penhascos, fantasmas, o sentimento de paranoia, segredos de família e o constante medo e ameaça de que algo desconhecido poderá voltar. Nevenka se tortura por ainda amar esse homem e também é torturada por ele ao mesmo tempo em que sente prazer; talvez por isso se permita tanto ao chicote e ao flagelo de Kurt. Como se livrar de uma coisa da qual ela não tem poder? Ela tem certeza que o amado ainda está vivo e sofrerá ainda mais na pele as consequências desse amor.

 


O Chicote e o Corpo tem atuações grandiosas como a de Christopher Lee, embora ele apareça quase sempre bravo e a chicotear. Daliah Lavi, atriz israelense que também foi destaque no filme italiano O Demônio (1963), chama atenção aqui novamente como a perturbada, apaixonada e desprezada Nevenka. Me surpreende que esse seja um filme não muito falado do Bava, pois questões sobre erotismo, temas psicossexuais e vingança familiar já eram temas em alguns de seus trabalhos anteriores como A Maldição do Demônio (1960) e o segmento The Wurdalak em As Três Máscaras do Terror (1963). No entanto, a abordagem mais adulta e madura talvez tenha pego o público da época desprevenido, tanto é que o conselho de censores italiano deu uma classificação mais alta ao filme, sendo assim, proibido para menores. 

Para quem gosta de horror italiano e dos temas apresentados, esse é um filme que vale muito a conferida. O conselho que dou é se deixar levar pela experiência visual e sensorial, pois fascinante. Afinal de contas, Mario Bava, né?! Está disponível na Darkflix.



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