#11 22 de Julho (2018)

 

Os filmes de terror sempre foram um lugar de conforto pra mim desde a infância. Me lembro de passar as sextas de madrugada acordado vendo TV, sozinho na sala, assistindo os filmes que passavam na TNT que vinha da antena parabólica. Foi nela que vi pela primeira vez Poltergeist - O Fenômeno e foi puro amor. Via os filmes trashes do SBT de tarde ou, ainda, o Cine Trash, clássico programa da TV aberta do Zé do Caixão. Filmes com monstruosidades absurdas como um crocodilo gigante nos esgotos, uma bolha gosmenta que ataca uma cidade, um cérebro imenso e flutuante que procura vítimas. Nunca me assustaram, sempre me deram gargalhadas, mesmo nas cenas gore.

Ah, o gore! Amo demais essa palavra que atravessa vários gêneros de filmes. Sempre tive pavor de ver mortos de verdade. Me assustava demais, nos primórdios da internet brasileira, meus amigos abrindo o site Assustador e me empurrando pra ver junto deles essas cenas tristes da humanidade. Mas a maquiagem perfeita, o sangue falso, um corte que espirra litros de sangue, isso me fascinava e ainda me enche os olhos.

Dito tudo isso, o que me causa real terror em um filme é quando ele trata de um assunto sério sobre o horror da vida, sobre o que somos capazes de fazer e, mais do que tudo, sobre como ela pode ser tratada de forma banal por uma pessoa apenas, causando danos em muitas famílias.

No dia 22 de Julho de 2011, Anders Breivik realizou um ataque terrorista a um prédio conectado a um partido de esquerda da Noruega. Ninguém sabia, mas o ataque era menos para causar vítimas e mais para divergir a atenção ao seu real intento: naquele dia, uma liga juvenil do mesmo partido se reunia na ilha de Utøya para férias. Breivik se direcionou até a ilha com grande quantidade de armas de fogo, assassinando 77 adolescentes e adultos antes de se entregar às forças policiais. Breivik é um neonazista e alegava que o país deveria ceder a ele e acabar com qualquer tipo de imigrante no país assim como qualquer outro tipo de raça que não fosse branca e fé que não fosse a cristã.

O filme é intenso. É assustador. Acompanha o jovem Viljar Hanssen e seus amigos não só na tentativa de se protegerem dessa pessoa abominável como também como seguirem suas vidas, durante e após o julgamento de Breivik. O trauma não só físico, mas psicológico que marca para sempre pessoas que tiveram que passar por essa situação é algo perturbador, angustiante.


É o tipo de filme que eu realmente não recomendo para qualquer pessoa. Tem que se ter em mente que aqui não existem monstros, não existe fantasia. Depois que os créditos sobem, você não terá o prazer de dizer, mentalmente, para si mesmo: "Ufa! Que divertido" e continuar sua vida. É saber que isso aconteceu e, muito provavelmente, foi pior do que demonstrado no filme. O que chamaríamos de "monstro" é um ser humano que poderia ser seu familiar, um vizinho. Não sou particularmente fã de chamar essas pessoas de doentes mentais, bizarrices e coisas do gênero. Pra além de todas as problemáticas da psicofobia, isso desumaniza as mesmas, faz parecer que não é algo comum elas existirem, coloca uma camada de irrealidade nelas. São cruéis, são monstruosas sim, mas são de carne e osso e, por isso, são muito mais assustadoras que qualquer filme de terror. Esse é lado do Horror que não temos como fugir.


No mesmo ano foi lançado o filme Utøya, 22 de Julho: Terrorismo na Noruega. Ele é mais poético, menos violento, e se passa apenas no momento dos ataques na ilha. Ele é mais poético, tem uma carga infinitamente menor de peso visual, e talvez seja até bem menos político por isso, e está mais interessado em mostrar o que as crianças precisaram vivenciar. É uma indicação bem mais branda, mas também menos completa de informações, sobre o caso.

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