Quando eu era jovem a Tv Bandeirantes (que ainda não se chamava Band) estava com um monte de filmes novos na grade de programação e caprichou na divulgação, no meio dessa enxurrada de lançamentos cujos outros títulos presentes me faltam à memória estava Ben – O Rato Assassino (Dir: Phil Karlson), fiquei bobo com a horda de ratos guinchando e encurralando pessoas e me impressionou particularmente num momento em que um homem, coberto de roedores, caía em agonia. Contei as horas até que finalmente o dia chegou e de frente à televisão me deixei singrar pelos mares da diversão e adorei o que vi, passei dias contando e recontando o filme pros amigos e amigas, contei tanto que em determinado momento fui convidado a não falar mais sobre Ben e devo ter parado mesmo para então encher a paciência deles e delas com outros filmes, livros, filmes, gibis e músicas, pois eu era desses. Ou sou. Sei lá. Vida seguiu, continuei nessa trilha, tempo passou e esqueci da maioria dos detalhes de Ben e só o revi nos anos 2000, com a empáfia natural dos que se creem sabedores do que quer que seja e observei vários “defeitos” nele, ainda que continuasse divertido no geral... e então eu assisti essa semana para escrever sobre ele aqui.
Para começar, é justo explicar que Ben é uma sequência. Sim, um ano antes chegara às telas Calafrio, baseado em livro The Ratman’s Book, de Stephen Gilbert e adaptado por Gilbert Raston, que até ali já escrevera episódios de Jornada nas Estrelas, Hawaii Cinco – 0 e Terra de Gigantes, entre outras e também escreveria o roteiro de Ben. Em Calafrio um jovem solitário (Bruce Davidson) que sofre abusos se utiliza de ratos, seus únicos amigos, para ir à forra, o que acarreta violentas consequências. Digo isso não por que eu tenha visto o filme há pouco tempo e sim porquê o que vemos nos cinco minutos iniciais de Ben são os cinco minutos finais de Calafrio. Isso mesmo, o bom e velho “previously” elevado à centésima casa do spoiler, portanto, se igual eu, vocês têm problemas com revelações antecipadas, assista o primeiro, porém, se isso pra você não configura um problema, se jogue, até porque a linha trabalhada em Ben, apesar das inúmeras mortes, é bastante diferente dos tons mais sombrios de Calafrio, ainda que o mote central não tenha mudado tanto, a solidão e no caso de Danny (Lee Montgomery), um garoto solitário em eterna convalescência por conta de uma condição cardiológica, passa os dias na garagem de casa onde fabrica marionetes e ensaia números musicais com os mesmos, se revelando bastante talentoso para a pouca idade, esse momento inclusive me fez lembrar de telefilmes da Disney exibidos nos tempos de antanho (coincidentemente, o ator estrelara, um ano antes, A Pata de Um Milhão de Dólares, filme dessa empresa). Além dessa vivência, sobram-lhe a companhia da mãe (Rosemary Murphy) e da irmã adolescente (Meredith Baxter) num subúrbio americano feito sob medida para o que chamamos de “american way of life”, tudo muito amplo e muito limpo, até que chegam os ratos, milhares deles, famintos, sedentos, vorazes, e cheios de doenças e pulgas. Estamos em 1972 e filmes com animais agindo como monstros não eram estranhos às telas e marcariam presença nessa década na forma de aranhas, répteis, peixes predadores gigantescos e mamíferos aquáticos e terrestres ensandecidos, com resultados diferentes entre si. Em casa, mesmo que alertado sobre uma invasão de ratos na vizinhança, Danny não estranha a chegada de um deles em seu ateliê e inclusive não demora para elegê-lo seu melhor amigo.
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