#8 O Cão do Diabo (1978)

Escrever neste blog enche o meu coração de alegria, pois aqui constarão não apenas textos sobre filmes, mas também, como vocês já sabem, lembranças da minha vida sempre que couberem, como acontece em...

O CÃO DO DIABO (1978)

Direção: Curtis Harrington

Roteiro: Stephen Karpf e Elinor Karpf

Com: Richard Crenna, Yvette mimieux, Kim Richards e Ike Eisenmann

...onde um grupo de pessoas vai até um canil e escolhem uma fêmea parideira para participar de um ritual em honra a Barghest, divindade de três olhos, péssimos bofes, asas de morcego e serpente enrolada no pescoço. A cachorra, infelizmente, está ali para gerar filhotes que apressarão o retorno do tal demônio e para variar, subsequente dominação das trevas no planeta, em uma cena que me causou imenso desconforto quando assisti muito jovem, na televisão — em especial, o momento em que a sombra da cachorra é projetada na parede do galpão onde o ritual acontece. Sabe quando o coração faz “TUM!” e ele vai parar em nossos pés enquanto nos revira as entranhas? Pronto, foi isso.


E como se para compensar todo o baixo astral que vimos até ali, conhecemos os Barry, Mike (Richard Crenna) e Betty (Yvette Mimieux), um casal de meia idade que vive em um subúrbio e, independentemente de você residir ali por anos, mais dia menos dia você erra de domicílio de tão parecidas que são as casas. Temos também os irmãos Charlie (Ike Eisemann) e Bonnie (Kim Richards), que completam o quadro de família perfeita que o cinema americano tanto trabalhou em nossos imaginários. 

Essa tranquilidade é abalada quando o cachorro de estimação deles aparece morto, entristecendo em especial Bonnie, que fazia aniversário naquele mesmo dia. Tempos depois, um senhor que reconhecemos fazer parte da seita diabólica aparece na vizinhança ofertando vegetais cultivados de maneira orgânica... e filhotes de pastor alemão. 


A princípio receosos, os irmãos acabam levando o animal para casa, uma coisinha absolutamente fofa que em nada se parece com o que achamos que um cão do inferno deve se parecer. 

Tudo corre bem até que sinais começam a mostrar que algo de estranho estava acontecendo naquela casa. O primeiro a desconfiar de alguma coisa é o cachorro do vizinho (um cão dinamarquês, mesma raça de Scooby-Doo, o que me deixou “Será...?”) e Maria, empregada latina e católica, sensível às energias que o cão, agora chamado Lucky (Sortudo) emana, avisa ao patrão que algo esquisito está acontecendo e que Lucky é o culpado. Porém, Mike, do alto do seu ceticismo e desdém, não dá ouvidos à funcionária e nem poderia, por que, como já disse antes, Lucky é a imagem da fofura, parece ter saído de um comercial de ração direcionado para o público infantil, ele não rosna, é meio desengonçado e tem aquela fuça amigável comum à raça. 


Tudo bem que os olhos dele brilham quando ele está prestes a fazer alguma maldade, mas só as vítimas percebem isso, como Maria, coitada, que pouco depois da conversa com o patrão é engolida pelas chamas do inferno sob o olhar “cuticuti” do animal, fato que não abala minimamente a família, devo registrar. Pois é, quem vem aos seus não degenera. Lucky é dissimulado, um enganador, um tratante que com o passar do tempo, começa a influenciar o comportamento da família e o único que parece ser imune é Mike, que pai dedicado que é, vai tentar com todas as suas forças vencer um mal vindo diretamente das profundezas do lago de fogo. 

Bagunçado, nada assustador e com efeitos capengas, “O Cão do Diabo” fica bem distante de suas reais possibilidades, mas nos cativa exatamente por suas falhas, em especial, a “atuação” de Lucky e os efeitos especiais paupérrimos usados para mostrá-lo em sua verdadeira forma. Não há um único take dele que indique que ele está no espírito do que está sendo mostrado, com destaque para uma cena onde ele persegue Betty dentro de casa. Em nenhum momento o filme alcança as suas possibilidades, mas seu elenco eficiente transforma o que poderia ser uma tragédia em algo que reconhecemos falhos, mas cumpre o papel no quesito entreter, ainda que de maneira inesperada.

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