Tido como o primeiro filme de terror vindo da Sérvia, quando ainda fazia parte da Iugoslávia, Leptirica ou Borboleta Feminina ou A Mariposa ou A Borboleta, se aproveita de um determinado folclore para contar uma história permeada por paranoias e superstições. O mito envolve seres vampirescos, mas nada como conhecemos dessas criaturas aqui no ocidente. Logo na cena de abertura um dos moleiros da aldeia está dormindo quando de repente é mostrado em destaque um ser com olhos arregalados, mãos peludas numa pele acinzentada com unhas grandes e todos os dentes da frente afiados. Ele está sujo de farinha e pronto para atacar. Já pela manhã, o moleiro Vule (Toma Kuruzovic) é encontrado morto e sem a garganta, o quarto a ser assassinado em apenas um ano na vila dessa forma. O alerta da presença de um vampiro no local, foi ligado. É curioso que ao mesmo tempo em que conta essa história tenebrosa, o filme é carregado de um humor peculiar e nonsense. Me lembrou muito de quando assistia às comedias de Mel Brooks ou do Louis de Funès, um tipo de humor que a gente chamaria aqui no brasil de “isso é muito Didi Mocó”. A partir dessa morte, os aldeões junto com o padre dão início a uma investigação e partem à procura da anciã da vila, pois eles acham que ela tem informações suficientes para dizer quem é o homem que está a atacar os locais. Essa é uma das cenas mais hilárias que já vi no cinema, pois a velha se finge de surda e quando finalmente escuta o homem que está aos gritos, diz não lembrar. Frustrados, eles vão embora e já alguns metros depois, ela solta um “AH, LEMBREI”. Isso acontece algumas vezes e me tirou boas risadas. Sim, meu tipo de humor.
Paralelo a isso, temos o caso do amor impossível do pobre Strahinja (Petar Bozovic) e da bela Radojka (Mirjana Nikolic), filha do temperamental fazendeiro que proíbe os dois de casarem, com a decepção, o rapaz decide ir embora, mas é parado pelos aldeões que o convencem a passar a noite naquele mesmo moleiro. Ele é atacado, mas não morre e dá início a uma subtrama que acaba virando a trama central e toda a explicação que esperávamos para o grande mistério.
É uma experiência e tanto assistir ao Leptirica, pois o diretor trabalha e sabe aproveitar muito bem a aura de horror que é criada e existe nesse cenário rural. Tudo o que esse ambiente estranho oferece, é explorado no filme criando realmente um tom atmosférico. Os animais, o comportamento pitoresco dos moradores, o som do vento e a sensação de isolamento contribuem para sua narrativa que, além de retratar uma história monstruosa que mescla muito bem comédia e horror, traz também um subtexto de amadurecimento aproveitado pela simbologia da borboleta que aparece em algum momento do filme nos revelando algumas respostas.
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