#66 Não Fale o Mal (2022)

 

O ano de 2022 foi recheado de surpresas para os fãs de horror. Para esse especial sobre os melhores do último ano, eu tinha outro filme em mente. Queria falar sobre Hellraiser que muitos não acabaram gostando, mas que em mim me agradou consideravelmente em diversos aspectos. Mas enquanto pensava sobre esses filmes maravilhosos que assisti, um deles não saía da minha cabeça por nada. "Não Fale o Mal" mexeu profundamente comigo e eu explico já iniciando uma pequena sinopse sobre ele.

Dois casais desconhecidos acabam formando uma amizade durante uma viagem de férias. Meses se passam e um deles convida o outro casal para que passem um fim de semana na casa do primeiro, para descontraírem numa região no meio do mato, com comidinhas e bebidas. E a partir daí a gente vai observando a construção dos laços de confiança que nós, seres humanos, acabamos criando com as pessoas que nos parecem amistosas.

É nesse ponto que o filme me feriu. Eu sou uma pessoa pouco sociável, no sentido de ser muito na minha, mas facilmente consigo criar laços com os outros, pelo menos os outros que me parecem merecedores destes laços ou que ainda me passem confiança. E mesmo que eu não fosse desse jeito, a humanidade é consequência da amistosidade que conseguimos construir. Somos sociais em algum tipo de nível. Queremos carinho, atenção, e para isso precisamos nos doar também.

O pulo do gato do filme é justamente nos pegar por essa fraqueza e mostrar que "tá, devemos ser sociais, MAS TOMA CUIDADO, porra". Ao longo da narrativa, várias ações do casal 1 ferem o casal 2, mas como o casal 1 é tão hospitaleiro e parecem ser tão abertos a quererem que o casal 2 desfrute de uma boa estadia... Porque não deixar de lado dessa vez? E outra e mais uma? Como somos cascudos em filmes de terror, a gente sabe que esse não é o caminho e isso irrita bastante. Mas vamos lá, somos quem assiste o filme, não estamos nessa situação. O que você faria? Abrir concessões também faz parte desse espírito humano. A gente só peca que abrirmos concessões DEMAIS.

O que eu senti que o filme quer nos mostrar, e não como um aspecto de lição ou moral, é que devemos ter cuidado com as pessoas. Não cuidado exagerado, também precisamos sermos abertos. Mas devemos sempre ter cuidado com o acúmulo de situações que a gente pode deixar que o outro nos fira. Pura e simplesmente porque queremos agradar, não parecermos ingratos. E isso o filme consegue construir perfeitamente.

Eu diria que o afunilamento que o roteiro vai dando só demonstra uma claustrofobia gritante e que deveria ser sinal para todos de que há um momento que chega. As consequências podem ser horríveis como o aniquilamento da sua própria persona.

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