Texto escrito por Emanuela Siqueira
Quando a Michelle me chamou para escrever aqui no blog, eu nem pensei duas vezes. Mais Próximo do Terror foi o filme que mais pensei sobre em 2022 e até cheguei a escrever um texto colocando ele e o Sonhos Alucinantes (1971, famoso pelo “vamos assustar a Jéssica até ela morrer”) para conversar sobre “as loucas da casa” e as “garotas finais”. Você pode ler o texto aqui nesse link e já adianto que esse filme é um desses achados das famosas caixinhas de terror da Versátil; mais especificamente a de número 13, veja só.
O filme carrega essa aura de descoberta porque está fora do circuito estadunidense da época, mesmo que dialogando de perto com os filmes de matança que são chave para essa fase dos filmes de terror, tais como O Massacre da Serra Elétrica, Sexta-feira 13 e etc. Porém, o filme neozelandês cria essa conversa de uma forma que até hoje impressiona, partindo de história relativamente simples: uma jovem chamada Linda (Jacki Kerin) volta para uma cidade do interior após a morte da mãe e lá sabemos que ela herda uma casa de repouso para idosos. Já viu, né? Uma casa de estilo vitoriana, com uma luz sinistra, cheia de velhinhos que podem morrer a qualquer momento.
Apesar de Linda se dar muito bem com as pessoas da cidade, a mãe dela morreu de uma forma que não sabemos muito bem como foi; situações estranhas começam a acontecer quando a jovem está na casa, tentando lidar com o luto e com a herança. Ao mesmo tempo que a personagem é apresentada como uma mulher independente – ela tem uma relação interessante com o ato de dirigir no começo e no fim do filme –, e sexualmente bem resolvida, ela também se mostra (importante, para nós que estamos assistindo) como alguém que está perdendo o controle psicológico, assinalando que a mãe também passou por isso. Conforme Linda vai perdendo a noção do que ela acha e do que está acontecendo de fato dentro, e nos arredores, da casa, nós vamos seguindo de perto a violência do desenrolar da história.
Eu falei dos slashers, né? Mais Próximo do Terror já começa com a cena final. Conhecemos Linda como a Sally Hardesty, de Massacre da Serra Elétrica, mas muito mais potente, dirigindo o próprio carro, apesar do desespero (e sangue) estar estampado no seu rosto. Sabemos, logo de cara, que a protagonista é uma final girl e queremos saber: a que custo? Como ela chegou até ali?
É uma pergunta que a resposta vale a pena de ser assistida porque carrega muitos dos elementos que formaram o cinema – e a literatura – de gênero até aquele momento. Linda não é só uma final girl, mas também representa outros tropos de mulheres ao longo das décadas como as famosas esposas enlouquecidas das décadas de 1940-1950 e também aquelas mulheres enclausuradas em sótãos ou porões, dadas como loucas. Mas, no fim, Linda nos surpreende, apesar de tudo e de todos.
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