O Nunsploitation teve seu maior ponto na década de 1970 com grandes clássicos como The Devils (1971), Les Demons (1972), Alucarda (1975) e etc. Mas, é um subgênero que tem também seus exemplares tardios como é o caso do que vamos falar hoje. Geralmente o background do Nunsploitation gira em torno de conflitos da opressão religiosa ou repressão sexual, já em Águas Escuras (Dark Waters), dirigido por Mariano Baino, tudo gira em torno de uma trama que envolve o sobrenatural, assassinatos, cultos, demônio e corrupção católica envolvendo um talismã histórico e cobiçado que esconde algo poderoso e sombrio.
Elizabeth (Louise Salter), uma jovem inglesa, perdeu a mãe no seu parto e recentemente também perdeu o pai onde recebeu toda sua herança. Foi quando ficou sabendo que ele contribuiu por toda a vida com uma quantia considerável para um convento de freiras enclausuradas e isoladas numa ilha, a mesma ilha em que ela viveu até seus 7 anos de idade. Ela não sabe os motivos que fez seu pai ser tão fiel a esse convento e resolve ela mesma ir conferir se deve ou não continuar ajudando. O convento, como já disse, fica num local de difícil acesso e na noite em que ela chega, está caindo uma tempestade. O barqueiro não a leva por dinheiro nenhum, mas ela está determinada a chegar naquela mesma noite, é quando encontra um homem que topa levá-la e finalmente tem sua reunião com a madre superiora. Acontece que todas as freiras deste convento carregam um ar sombrio e parece fazer de tudo para esconder um segredo do mal que vive sob as catacumbas do convento, inclusive o contato com esse mal, fez as freiras virarem bruxas, cegas e com um certo desequilíbrio mental. Elas se autoflagelam de forma fanática, marcham com cruzes em chamas, cantam em línguas estranhas, falam sussurrando e atacam do nada com adagas disfarçadas de crucifixo. No entanto, tudo isso só faz aumentar a curiosidade de Elizabeth que recebe a ajuda de Sarah (Venera Simmons), uma jovem noviça, solicita e supostamente também disposta a desvendar os mistérios do convento.
Dark Waters é daqueles filmes que você vai assistindo sem entender muita coisa ou as motivações, teve uma hora que eu desisti de ligar os pontos e só fui. A experiência foi até melhorando depois dessa decisão. Ele carrega uma atmosfera sempre profética ou de que algo que está prestes a acontecer. A cinematografia ajuda muito nessa imersão, pois é um convento carregado de imagens religiosas assustadoras, rodeado de velas acesas o tempo todo e o tom amarelado do filme, dá mais ainda a impressão que estamos em algum quadro representativo do inferno ou algo Lovecraftiano.
Mariano Baino chegou a ser conjecturado como o próximo grande cineasta italiano, mas esse acabou sendo seu único longa, do qual, inclusive, ganhou vários prêmios na época pela contribuição ao gênero fantástico e foi até comparado com Bergman. Depois disso, Baino trabalhou apenas com curtas-metragens, roteiros, edição.
As filmagens de Dark Waters foram bem conturbadas, o primeiro filme de faroeste (?) que foi rodado na Ucrânia numa época em que a união soviética estava colapsada e acabou criando vários problemas onde teve as filmagens quase interrompidas. Hoje estamos vendo aí de novo esses territórios serem alvos de guerras, mortes e destruição. A vida e seu eterno retorno...
Para resumir, eu indico demais esse filme, pois além de atmosférico, ele tem uma cenografia incrível que brinca com tons saturados ao mesmo tempo que joga com luzes e sombras nas horas certas. A reviravolta não é genial, o final é anticlimático, mas ainda assim satisfatório e tem cenas memoráveis, como quando aparece uma criatura que mistura Cthulhu e Monstro do Pântano. Daquelas produções que fez barulho na época, mas que apenas com os anos está sendo redescoberta e voltando a ser aclamada, principalmente por gente feito a gente, fãs de terror que adora um filme que carrega toda a aura da época como esse carrega a dos anos 90.
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