Eu me lembro como se fosse ontem quando o novo Suspiria foi lançado nos cinemas porque foi um momento muito importante pra mim, como profissional. Eram meus primeiros passos como alguém que trabalha com terror, e, sinceramente, 2019 foi um ano do caralho pra mim. E, de certa forma, Suspiria foi uma parte fundamental nisso aí.
Acho que fui convidada pra umas três cabines de imprensa do filme e fui em todas. A que mais gostei foi a do Play Arte e o Cine Phenomena. O cinema estava incrível, e foi excelente.
Mas acho que não é só por isso que esse filme tem um lugar tão especial no meu coração.
Veja bem, eu entendo realmente os fãs do filme antigo não gostarem do remake. Ao meu ver, os fãs de terror são um dos grupos mais fiéis aos seus gostos — e isso é uma benção e uma maldição. Então, ok, super natural que os fãs mais apaixonados tenham lá suas reticências a gostar do novo filme — nem sempre isso acontece porque é um filme ruim, do qual eu defendo fortemente que não é, mas talvez mais por uma questão de afinidade.
Entretanto, agora talvez eu dê uma informação valiosa a meu respeito, eu não tenho lá muito apego a isso. Gosto de remakes, gosto das tentativas, gosto do esforço. E, pra completar, a cereja vermelho-sangue desse bolo chamado Suspiria, eu não tenho lá uma ligação muito forte com o filme original. Gosto, mas não é meu filme favorito. Nem sou a maior fã do Dario Argento. Mas fiquei fascinada com toda a mitologia que envolve essa obra. Talvez seja isso que me faça gostar tanto desse remake. Então, dados esses fatos, vamo lá.
O Suspiria de 2018 foi dirigido por Luca Guadagnino, com roteiro assinado por David Kajganich. Na história, com seu cerne bastante semelhante ao filme original, Susie (Dakota Johnson) vai até a Alemanha para estudar dança em uma academia bastante conceituada, a Markos Tanz Company. Chegando lá, entretanto, as coisas são meio esquisitas demais. Pra começo de conversa, uma das alunas é encontrada morta. E o que parecia ser um caso isolado de homicídio logo se transforma em uma situação pra lá de sobrenatural. Há algo acontecendo na escola, algo dentro das paredes, e as professoras parecem todas esconder um grande segredo.
E esse segredo envolve bruxaria, assassinato, sacrifícios e danças. Nas bases dessa escola de dança, temos um grupo de mulheres que praticam feitiçaria para conquistar poder e vida eterna. Conhecidas como "mães", todas as alunas fazem parte de um plano para um ritual.
O filme também conta com Tilda Swinton, Mia Goth e Chloë Grace Moretz no elenco, além de uma pontinha de Jessica Harper, a Suzy do Suspiria original.
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Jessica Harper na pontinha |
Todo o clima de Suspiria é um suspense enlouquecedor, com uma trilha sonora arrepiante. Porque, sinceramente, a gente nem entende muito bem o que tá acontecendo ali. A gente sente que há algo maluco acontecendo, mas ninguém tem muita certeza. Uma das cenas mais sinistras é em uma dança espelhada entre Susie e a personagem Olga (Elena Fokina), que, sinceramente, me arrancou suspiros (piada não intencional).
E eu AMO toda a mitologia que o Argento reuniu e que o Guadagnino expandiu. Acho a ideia das três mães muito legal. No texto que escrevi para o lançamento do filme, em 2019, eu organizei as informações: “A trilogia original das três mães é formada pelos filmes Suspiria (1977), Inferno (1980) e La Terza Madre (2007), todos dirigidos por Dario Argento. A inspiração para a criação das três mães foi a terceira parte de Suspiria de Profundis, publicado a partir de 1845, de Thomas de Quncey (mais conhecido por seu trabalho Confissões de Um Opiómano Inglês, [que influenciou Edgar Allan Poe e Baudelaire em alguns escritos]), chamado "Levana and our ladies of sorrow". Nele, Quincey imagina três companheiras para a deusa romana Levana, deusa das crianças recém-nascidas. As três companheiras seriam: Mater Suspiriorum, a mãe dos suspiros; Mater Tenebrarum, a mãe das trevas; e Mater Lacrymarum, a mãe das lágrimas”. (sim, eu copiei a mim mesma, porque estava com preguiça de escrever tudo de novo — aliás, meu texto tá aqui, se alguém quiser ler).
Cada filme da trilogia original do Argento meio que fala um pouco sobre cada uma dessas mães. Mas o Suspiria do Guadagnino meio que condensa tudo em um único filme. Eu gosto do tom, gosto da construção, gosto do cenário, da ambientação e das várias teorias sobre as personagens. Não é um filme perfeito e eu não costumo revê-lo sempre (acho que bati minha cota tendo assistido ele umas sete vezes no ano de lançamento), mas é um filme que tenho um carinho especial.
Gosto também do fato do Guadagnino ser uma caixinha de surpresas. Depois de trabalhar com Me Chame pelo Seu Nome (2017), ninguém acreditava muito que a produção de Suspiria daria certo, mas deu. Então, quando ele anunciou o filme Até os Ossos — conhecido popularmente como "O seu amor é canibal / Comeu meu coração mas agora eu sou feliz" —, todos ficaram meio incrédulos pensando “isso nunca daria certo”. E deu. Foi uma das maiores surpresas para a maioria das pessoas que eu acompanho no letterboxd. Eu ainda não assisti, mas estou muito curiosa com esse filme.
No fim, pra mim, Suspiria sofreu um pouco com o apego emocional dos fãs com o passado. Mas penso que é um filme bonito, envolvente, meio esquisito, sem pé nem cabeça, mas com ideias muito boas.
Não deixem de conferir o texto que a Michelle escreveu sobre o filme original, de 1977, aqui no blog. E não deixem de assistir aos dois filmes. Eles se complementam e dialogam entre si de uma maneira especial.
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