#104 A Fúria dos Monstros (1975)

Já entramos naquela parte dos filmes da franquia Godzilla em que algumas coisa você só aceita porque é isso, é pra se divertir, a crítica acabou e a lógica nunca existiu mesmo. Mas ainda assim algumas coisas são muito boas de serem vistas acontecer, principalmente quando falamos de uma produção da década de 70 e longa. Digo isso em termos de bastidores e que acabam por gerar mudanças e reflexões sobre como as pessoas pensavam naquela época.

N'A Fúria dos Monstros temos, como sempre, dois subplots: a luta desenfreada entre os kaijus e o drama entre humanos, relações amorosas, tudo isso se unindo e desenrolando juntamente, um afetando o outro lado. O doutor Mafune foi escorraçado pela comunidade científica por mais de uma década por ter avistado um dinossauro. E mais, afirmado que conseguiria controlá-lo! Nos flashbacks vemos que nessa época vários monstros já haviam despertado, o que não tem muita lógica querer tratá-lo mal, a não ser pela parte do controle. "Ninguém controla nem o Godzilla, tá maluco, mermão?".

Pois bem. Enfurnado em sua casa com sua filha, odiando a humanidade, ele recebe ajuda de um grupo privado para desenvolver a tecnologia capaz de controlar tal dinossauro, denominado Titanosaurus. Enquanto isso, seres alienígenas humanoides resgatam do fundo do mar partes do Mechagodzilla com a intenção de usá-lo contra a humano (o robô não tem descanso). Mais tarde descobre-se que os alienígenas e o grupo privado são A MESMA COISA e mais, a filha de Mafune na verdade morreu e, num ato de controle por parte dos ETs, foi recriada como ciborgue para que os parafusos do doutor não se soltassem e ele continuasse com seu projeto.

A ideia toda envolve dois atos: os alienígenas pretendem destruir Tóquio (em seguida a Terra) com Titanosaurus sendo controlado pelo doutor, mas sabendo da existência de Godzilla (e seus aliados kaijus) eles também reconstroem Mechagodzilla para derrotar o monstrão de vez e mais, o Mecha será controlado pela Katsura, a filha do doutor. Nesse balaio todo, a Interpol entra com uma investigação sobre um acidente internacional envolvendo um possível dinossauro e vão investigar o doutor. Um dos agentes acaba se apaixonando por Katsura e ela, ainda possuindo uma mente humana, corresponde aos sentimentos. Tudo isso trará reviravoltas à trama de um entendimento um tanto complicado em alguns momentos.

Agora vamos aos bastidores: o roteiro sofre em algumas contradições e confusões. A Toho fez um concurso para roteiristas criarem uma nova premissa para o próximo Godzilla. Yukiko Takayama foi uma das participantes e acabou ganhando, trazendo pela primeira vez uma mulher nessa área para a franquia. O roteiro trazia bastante destaque para uma personagem feminina, o que se supõe-se ser Katsura, e agradou a produtora. Ishirō Honda, que retornava depois de aproximadamente uma década aos filmes, observou o mesmo e disse que era intrigante, mas a história era meio preguiçosa - "muito poética" - e psicológica demais. Isso porque ele reclamava que a franquia tinha se desviado demais do tema... E aí ele reescreveu parte do roteiro (não se sabe o quanto, mas né).

Titanosaurus com escoliose. 

O positivo é que se observou um movimento maior de mulheres no público dos filmes e, junto disso, as produções viriam a ter mais delas participando ativamente na criação das histórias e, como um reflexo disso, uma presença significativa de personagens femininas mais ativas e importantes nas tramas. Isso começa já a aparecer no filme seguinte, Godzilla '85, com uma personagem recorrente e vital nas ações humanas. Mas isso fica para as próximas resenhas!

A Fúria dos Monstros marca como o último filme da série por quase uma década e o final de um estilo menos violento, mais "infantil" que perpassou pela década de 60 e 70. Demorariam 9 anos até que uma espécie de reboot seria lançado, trazendo um monstrão muito diferente do que seu público tinha se acostumado até então.

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