O ano de 64 foi bem movimentado para a produtora japonesa Toho. Naquele mesmo ano, oito meses antes, eles lançaram o filme Mothra vs Godzilla (resenhado aqui) e agora eles vinham com mais um projeto gigante, talvez o seu maior até então dentro de suas produções kaiju. Desta vez somos apresentados ao monstro de três cabeças (e duas grafias ocidentais) Ghidrah. Em determinado momento ele também recebe o título de King, gerando aí mais uma versão para sua nomenclatura. O certo é que uns bons anos mais tarde a própria produtora começou a ditar como deveria ser escrito seu nome no ocidente: Ghidorah ou King Ghidorah. Tudo isso vem da fonética de sua pronúncia e como ela é passada para nosso lado do mundo. Estou do lado da Toho, então apesar dos cinemas brasileiros o chamarem de Ghidrah em 64 (que ano turbulento), vou descrevê-lo como a chefia manda.
A produção de Ghidrah foi bastante agitada. Primeiramente, Eiji Tsuburaya, responsável pelos efeitos especiais, mudou a localização das lutas para o interior do país para que houvesse corte tanto nos custos quanto na quantidade de especificidades necessárias. Lutas em cidades exigem MUITA maquete e Eiji sendo o perfeccionista que era jamais faria algo de baixa qualidade (a franquia deve muito a ele e seu conhecimento). Porém surgiram outras questões, como o Monte Fuji que demorou aproximadamente 500 dias para que ficasse pronto. A ideia de mudar as locações já existia há mais de um ano e meio.
Em 1956 havia sido lançado o filme Rodan em que um pássaro jurássico e colossal atacava pessoas. Com isso em mente, a produtora trouxe o monstro para um embate contra Godzilla. A ave acorda de um vulcão em chamas e começa sua destruição, ao passo que Godzilla surge para abatê-lo. Enquanto isso, a princesa Salno está sob proteção policial contra forças políticas internacionais. Em seu avião, ela tem uma espécie de visão onde uma voz lhe diz para se salvar pulando da aeronave pois ela será destruída, o que de fato acontece em sequência. Uma terceira ocorrência conectada são misteriosos meteoros nos céus, sendo um deles bastante brilhante.
Eis que a princesa está a salvo, mas agora disfarçada como homem, e começa a predizer que a estrela brilhante é um monstro espacial pronto para destruir a humanidade. E ela está certa. King Ghidorah chega ao Japão, com seu corpo feito de ouro, cuspindo raios elétricos de suas três cabeças e apresentando um tamanho imenso. O povo japonês acaba recorrendo à Mothra, no caso agora em estágio de larva após sua luta com Godzilla, para que ela traga razão ao seu ex-adversário e destrua o ser espacial. Bem, e aqui temos a primeira virada na história da filmografia do lagarto. Depois de muito lutar contra Rodan, assistir Mothra quase morrer para Ghidorah, não só ele, mas Rodan se juntam à borboleta sagrada e assim lutam uma baralha desafiadora contra o douradão. A virada? Godzilla não está lutando por egocentrismo, territorialismo, mas por todos os seres humanos. O herói nacional nasce.(Na primeira versão, Ghidorah não seria todo dourado e teria asas em arco-íris)
Yoshio Tsuchiya, que faria um papel importante no filme, era um dos atores favoritos do diretor Ishiro Honda, mas acontece que o mesmo também era adorado por Akira Kurosawa e ele já se dedicava ao filme O Barba Ruiva (65) e acabou saindo da produção.
Apesar de tudo, o filme aconteceu e fez muito sucesso deixando Ghidorah como um legado e eterno favorito entre os fãs de Godzilla que acabou por trazê-lo muitas vezes de volta para a franquia com diversas aparências, dentre elas uma versão mecânica. Atesto aqui: veja pois é um dos grandes filmes do lagarto e é primordial para entender como ele deixa de ter que manter sua fama de mau em um prol maior.
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