Existem alguns filmes que se destacam na história do cinema por serem perturbadores e não necessariamente mostram imagens que embrulham o estômago, mas o roteiro em si (e a maneira como ele é apresentado) faz com que essas películas adquiram um ar bem insalubre, algo do tipo que não é indicado para todos os públicos. E aqui começo dizendo que Medo é um desses e eu jamais diria para qualquer um assistir sem antes essa pessoa saber o mínimo sobre o que se trata.
Ele começa com um homem indo tocar a campainha de uma casa. Quando uma mulher atende, ele a mata com um tiro e, em seguida, é preso. Alguns anos se passam e ele é solto. Sua primeira parada é em uma lanchonete onde ele já começa a colocar em plano suas próximas vítimas, já mostrando o moralismo que serve de guia desde o início como se quisesse dizer "olha bem o que dá em soltar seus bandidos, é nisso aqui que tudo resulta". O sistema penal é falho, mas não dá para olhar apenas uma das facetas dele...
Caminhando por uma rua quase deserta, ele encontra um casarão, o invade e encontra um homem adulto com transtorno mental andando em cadeira de rodas. Aqui a tortura já começa e ficará mais marcante quando descobrimos que está para chegar a mãe e a irmã do homem que lá se encontrava e que, com isso, o invasor poderá colocar todas as suas ideias em prática. Daqui pra frente é tudo um tanto no imaginário, mas ainda assim mostra e diz o suficiente para que entendamos que houve estupro, houve degradação de cadáveres, houve inclusive situações totalmente desprezíveis onde sangue e vômito se misturam sem distinção.
Um outro ponto de tensão muito forte, pra mim pelo menos, é que o invasor (ele realmente não tem nome no filme) gosta de torturar animais. E da metade do filme em diante um cachorrinho o acompanhará totalmente alheio ao que acontece ao seu redor. Deixo aqui a duvida sobre ele se tornar mais uma vítima.
O filme tem uma fotografia muito interessante com uma câmera que se divide entre momentos em que ela desliza suavemente entre cômodos ou de lugares altos para baixo ou ângulos estranhos e também com outro tipo de câmera em que só vemos o movimento frenético e bem próximo do rosto do invasor, acompanhando sua fúria sanguinolenta enquanto busca raciocinar o que fazer a seguir. Esse estilo de câmera foi bastante influente em outros diretores, principalmente para Gaspar Noé, que sei que isso não é nenhum elogio pra muita gente por ter um cinema também nada convencional e que dialoga bastante com Medo.
Acabou que o filme foi proibido assim que saiu em diversos países da Europa incluindo o de origem, Áustria. O diretor, Gerald Kargl, acabou que só dirigiu um curta antes do filme e após o mesmo nunca mais dirigiu nada além de um documentário bastante obscuro em 2006. Há quem diga que Medo sujou completamente a carreira dele. Fica aqui esse boato.
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