Mesmo morando numa capital, nem sempre os lançamentos de Horror Nacional chegam por aqui e com os festivais online meio que democratizou o acesso aos lugares que não fazem parte desse eixo mais forte e apelativo mercadologicamente falando.
Terra e Luz, filme de 2017 de Renné França, se passa num cenário pós apocalíptico, onde humanos foram quase extintos por uma praga vampírica, um homem em meio ao cerrado brasileiro tenta sobreviver a qualquer custo. Seus únicos recursos são a terra e a luz. Esse é basicamente o filme. A jornada de um homem que luta pela sua vida, até o momento em que tem que cuidar de outra também.
Gosto muito da primeira parte do filme quando o silêncio e a ausência de diálogos prevalece e os únicos sons são os gritos apavorantes das pessoas sendo atacadas por seres esquisitos, quase etéreos onde anuncia coisas que vemos deles, são sombras rastejantes pretas. Para nos acompanhar nessa jornada, uma trilha sonora que sabe entrar e sair nos momentos certos de tensão, medo e alívio.
Interessante que o filme vai além da fantasia e do mito vampiro como criaturas da noite quando mostra um ambiente completamente insalubre para sobreviver. A fuga do personagem não é só dos sugadores de capa preta, mas também dessa natureza seca de sol escaldante e dos próprios humanos que restaram.
O caminhante que passa grande parte sozinho, ganha a companhia de uma criança e é aí que, ao meu ver, o filme perde um pouco a força com a inserção de diálogos explicativos, no entanto, no meio de algumas exposições, há uns momentos bem tristes e reflexivos como "eles nos fizeram ter medo das estrelas" ou "antigamente o pôr do sol era uma coisa bonita".
Ao mesmo tempo, a entrada de Lúcia na história acrescenta dramaticidade porque é quando o homem ganha a oportunidade de se humanizar ao ter que pensar no outro, principalmente esse outro sendo uma criança com fome e medo.
No geral, é um ótimo filme com uma atmosfera deveras angustiante e um passeio por belíssimas imagens do cerrado goiano. Fica a recomendação.
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