#142 Os Parecidos (2015)

Filmes esquisitos são a minha praça, costumo gostar da maioria que me indicam e não fico chateada ou me achando burra se não consigo “alcançar” ou “entender” o que o roteiro quis dizer. Às vezes é só deixar fluir e tá tudo bem. Os Parecidos, filme mexicano escrito e dirigido por Isaac Ezban, é um filme esquisito, é muito do que conhecemos de Além da Imaginação e o que ela influenciou e influencia até hoje. Não é para entender, é para saber que tudo ou quase tudo vai além de nosso entendimento ou pode ser tudo também fruto de nossa imaginação.

Numa madrugada de 02 outubro de 1968, oito estranhos estão numa rodoviária e aguardam o ônibus para seguirem para a cidade. A chuva é forte e, além de causar o fechamento da estrada, o ônibus nem estava perto de chegar e ainda os deixam enclausurados no local. Claro que temos aí o ambiente perfeito que emula diretamente as produções sci-fi das décadas de 50 e 60 que eram as paranoias. O fato deles ficarem muitas horas trancados com alguns desconhecidos, também dá a oportunidade de conhecer as pessoas e a si mesmo também. É com isso que Ezban brinca o tempo todo, não só com seus personagens, mas com a gente também enquanto espectador. O ano de 1968 foi marcante para o México no que se refere à História, nesse dia especificamente, inclusive o filme começa mostrando a notícia, aconteceu um massacre de estudantes pelas forças do governo no que ficou conhecido como o Massacre de Tlatelolco. O diretor disse que citar o evento, foi para dar mais ênfase a uma historia politica e homenagear os filmes políticos da década de 60.

Tudo na estação de ônibus é nebuloso, escuro e misterioso e mesmo com uma certa calma no geral dos passageiros, um se destaca pela impaciência. Ulises (Gustavo Sanchez) é um mineiro que deseja chegar logo a sua casa pois sua esposa está prestes a dar à luz. Mas...como já disse...há uma tempestade lá fora que não só atrasou e fechou esta estação, e sim todos os transportes. Há também Irene (Cassandra Ciangherotti), uma grávida que quer fugir de seu marido abusivo. Todos parecem entender que ali aquelas pessoas tem suas urgências e necessidades e Martin (Fernando Becerril), o chefe da estação, parece indiferente a todos eles. O tempo vai passando e a estação que normalmente é um lugar de chegada e saída, só vai chegando mais e mais pessoas, como a socialite Gertrudis (Carmen Beato) e seu filho Ignacio (Santiago Torres), um garoto que aparenta estar bem debilitado e doente. Ela é superprotetora e vive a dar injeções ao menino cada vez que ele acorda agitado de seu sono induzido. Ninguém sabe o que ele tem. Os outros personagens incluem um estudante de medicina paranoico, um taxista, um detetive de polícia, uma atendente de banheiro e uma idosa nativa que não fala espanhol, mas que parece estar o tempo todo proferindo feitiços e maldições. 

As horas passam, as informações que chegam pelo rádio não são animadoras, as tensões e angustias vão aumentando e somado a tudo isso, como se pouco fosse, começa a acontecer algo mais estranho: cada uma dessas pessoas começa a sofrer uma estranha mutação genética. Todos eles alegam ser Ulises, aquele mais impaciente que chegou primeiro. Pronto, a partir daí corremos o risco de falar demais e estragar as surpresas que esta obra incrível nos reserva. Atrelado a todo esse clima de suspense e horror, tem uma trilha sonora que funciona muito bem e lembra até o clima das trilhas de Bernard Hermann. E para condizer com todo o clima retrô do filme, o diretor opta por efeitos práticos, maquiagens manuais e um filtro que deixa quase tudo monocromático, um acerto a meu ver. Se ainda não viu essa belezinha, recomendo cai pra dentro o quanto antes. E se gosta também daquele clima misterioso de Além da Imaginação ou de paranoias de Vampiros de Almas (1956), cai pra dentro também. 




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