#165 A Vampira de Veludo (1971)

A Vampira de Veludo

1971, EUA colorido 80 minutos

The Velvet Vampire

Direção: Stephanie Rothman

Roteiro: Stephanie Rothman, Charles S. Swartz e Maurice Jules

Elenco: Celeste Yarnall, Sherry E. DeBoer, Chris Woodley, Michael Blodget, Gene Shane, Jerry Daniels, entre outros e outras

Se existe uma coisa que não falha é a palavra, seja para o acerto ou para o erro e uma vez que ela se liberta dos nossos lábios os resultados podem ser imprevisíveis. Outro dia mesmo, por exemplo, eu mui orgulhosamente desdenhei dos vampiros, chamando de tediosa a sina deles, etc, etc (para melhor entendimento, leiam o texto sobre Vampire Hunter D. aqui no blog) e essa minha “convicção” não durou muito para ruir, quando na mesma noite comecei a pensar nos filmes de vampiros que gosto e cheguei à mais do que óbvia conclusão de que, pode sim ser um tanto quanto tediosa a vida, ou pós vida, ou pós morte... enfim, a existência desse tipo de criatura, MAS, uma vez entregues a mentes que singrem sem medo pelos mares da imaginação, provavelmente teremos em mãos histórias inesquecíveis estreladas por eles e elas, como prova a história do cinema, da literatura, hqs e outros meios que trabalham o horror e antes que alguém pergunte se estou escrevendo isso porque sofri represálias de fãs de vampiros e vampiras, não, não foi isso, é que acho que fui um tanto quanto infeliz naquela afirmação e escrever essas linhas era necessário até para poder comentar mais sobre  estas criaturas de ingrato destino. 

Imagina só você vivendo a sua vida, que, para o bem ou para o mal, te pertence e de uma hora para outra o seu sangue vira o alimento de alguém. Acredito que, de início, não entenderias o que está acontecendo, só terias certeza da dor e de que algo de errado está erradíssimo. Se tiveres sorte, morrerás e se esse não for o caso, hoje, mais de um século depois de escritas as primeiras histórias sobre eles, saberias que o vosso destino poderá ser bem variado, indo da desgraça profunda ao romance aguado, com possibilidades bem melhores entre essas duas. A única coisa certa, acredito, é que não teria volta, uma vez vampiro, vampiro até morrer... de novo.

A história mostrada em A Vampira de Veludo é deveras simples, nada mais do que um casal que é convidado por uma mulher misteriosa a passar um fim de semana em sua casa no deserto e lá se veem tal qual ratos nas mãos de um gato que quer brincar antes de comer. O gato, ou melhor dizendo, a gata atende pelo nome de Diane LeFanu (Celeste Yarnall), uma vampira que circula entre exposições de arte depois de se alimentar, os ratos são Lee (Michael Blodgett) e Susan (Sherry E. DeBoer), um casal aparentemente descolado que aceita o convite de uma completa desconhecida e isso pode custar as suas próprias vidas. Fosse esta história escrita por uma mente preguiçosa, talvez o filme que víssemos aqui fosse exatamente igual ao que imaginamos ao lermos a sua premissa, mas, sabendo do orçamento limitado que enfrentaria, a diretora, que vinha de uma carreira exitosa em filmes de exploitation como It’s a Bikini World (1967) e The Student Nurses (1970), preferiu dar asas à imaginação e escrever o roteiro que lhe apetecia, aproveitando cada centavo cedido pelo produtor, Roger Corman, que como já sabemos, não eram tantos assim e dessa maneira temos uma vampira que circula tranquila sob a luz do sol, não se transforma em nenhum animal ou em névoa e sequer possui presas. 

Sabe que falta fazem essas coisas na narrativa? Nenhuma, por que A Vampira de Veludo é antes de tudo um jogo de sedução onde Diane testa cinicamente os limites do casal, satisfazendo suas vontades da maneira que lhe apetece enquanto é auxiliada por Juan (Jerry Daniels), descendente dos povos originários americanos que faz às vezes de Renfield para ela. Tudo corre bem, até que a esposa de uma vítima, ao investigar o desaparecimento do marido, coloca em xeque os planos da vampira, que entre sonhos erotizados e outros mistérios, tece a teia que uma vez pronta, jamais libertará suas presas.

Stephanie Rothman foi a primeira diretora americana a fazer parte do Director’s Guild of America (que na época já tinha décadas de existência) e teve sua carreira encurtada por não conseguir se desvencilhar da imagem de criadora de filmes de exploitation. Lendo sobre a vida dela, acho difícil acreditar nessa história e me senti mais propenso a acreditar na sabotagem de uma indústria que desde sempre viu as mulheres como um ser de segunda categoria, principalmente se a mulher demonstrasse talento, o que era o caso de Stephanie Rothman. Uma pena.






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