Quando penso em John Carpenter, o filme que logo me salta a cabeça é Starman. Mas porque logo esse, você deve tá se perguntando, já que o diretor tem tantos outros filmes melhores que podem ser citados e lembrados com mais mérito, inclusive. Eu respondo dizendo que Starman é uma lembrança afetuosa que eu tenho por ter sido o primeiro filme do Carpenter que assisti sem nem saber quem era Carpenter na fila do pão do terror. E aí por isso, quis trazer ele aqui para escrever um pouco. É mais um filme afetivo do que realmente por merecimento, mesmo tendo o lindo e maravilhoso do Jeff Bridges que já deveria ser motivo de atenção por si só.
A trama é bem simples e mistura drama, ficção cientifica e romance. Tudo começa quando uma sonda espacial chamada Voyager 2, lançada há alguns anos, carrega um disco de vinil de ouro que toca Satisfaction dos Rolling Stones e uma mensagem de paz convidando civilizações extraterrestres para visitar o planeta Terra, só que quando uma pequena nave de um planeta alienígena entra na órbita da Terra para reconhecer o terreno e entender nossa civilização, o governo dos EUA recebe essa nave de maneira hostil com misseis e a derruba próximo da casa de uma recém viúva. O habitante alienígena, sem forma aparente e parece mais uma bola de energia, flutua pelo ambiente até chegar na casa de Jenny Hayden (Karen Allen) que está curtindo seu luto assistindo aos vídeos antigos do marido falecido. Ela adormece e enquanto isso, o ser de luz extraterrestre adentra em sua casa. É a partir da mecha de cabelo do falecido Scott, que o Starman clona o falecido e passa a ter a forma física dele. É quando Jenny acorda assustada e presencia tudo sem entender nada. As surpresas não param por aí, o Starman carrega consigo sete esferas de prata que quando acionadas, proporcionam alguns feitos milagrosos como dar a vida de volta a um ser morto ou fazer queimar e explodir coisas mesmo que esteja longe.
O homem das estrelas faz contato com seu povo e marca o dia e local de seu resgate, ele usa uma das esferas para isso. É quando ele e Jenny partem numa jornada de três dias até o local marcado pelo ser. O disco de ouro da Voyager, ajudou na comunicação e no entendimento da língua local do Starman, é de uma forma bem capenga que ele e Jenny se comunicam, que a principio se mantem com medo e tenta a todo custo escapar do ser interplanetário achando que está sendo sequestrada, mas ele só quer a sua ajuda para conseguir chegar em tempo ao local marcado, senão ele morrerá.
Paralelo a isso, tem o governo dos EUA que quer o resgate do homem das estrelas custe o que custar. Como se não bastasse os efeitos ousados e ainda de cima para tempos atuais, é no arco militar que percebemos o quão rico foi o orçamento dado a esse filme em comparação com outros filmes de Carpenter. 24 milhões de dólares é um baita investimento e a somar os orçamentos de todos os filmes do diretor que antecederam este, quase não bate a conta. Dezenas de helicópteros, explosões gigantescas, batidas de carros e caminhões, tudo impressiona numa época que ainda não tinha o CGI como recurso. Infelizmente a bilheteria flopou e só arrecadou na época 28 milhões de dólares.
Algumas curiosidades sobre o filme, é que ele só saiu do papel, após cinco anos em desenvolvimento, por insistência de Michael Douglas, o produtor executivo do filme que nem tinha John Carpenter como primeira opção para dirigir. O nome que estava no projeto era de Mark Rydell, mas ele saiu fora alegando divergências criativas com o produtor Douglas. É bem nítido que a ideia aqui era pegar carona nos sucessos de filmes de alienígenas cordiais como o próprio ET que ainda colhia os louros enquanto este daqui saia do papel. Foi então que juntaram isso mais a vontade de Carpenter de querer se desfazer da imagem de diretor de filmes de terror e do The Thing (1982), seu sci-fi “violento e niilista”, segundo os críticos na época e deu-se essa mistura de road movie com romance e sci-fi. Hoje em dia e analisando a trajetória de Carpenter, vê-se logo que é um filme que não tem muito a cara dele e quase não é citado nessas listas quando se pede para fazer um top de seus filmes. Em contrapartida, o personagem Starman rendeu a Jeff Bridges indicação ao Oscar e ao Globo de Ouro. Outra curiosidade é o fato de não ter trilha do próprio Carpenter no filme. Aqui, o responsável pela trilha original é Jack Nitzsche, músico, arranjador, compositor e produtor que também trabalhou diretamente com os Rolling Stones, Neil Young e fez também trilha para O Exorcista (1973) entre outros. Sua colaboração em Starman lhe rendeu indicação ao Globo de Ouro também.
Entre derrapadas açucaradas e momentos tensos junto de criticas a um modo estadunidense de ser cordial (entre aspas), Starman vale ser visto e revisitado. É um filme que rendeu até uma série de TV, de curta duração e sem ninguém do elenco original, rola até uma conversa desde 2016 que o Studio, Columbia, quer realizar um remake desse filme junto com o produtor de Stranger Things, Shawn Levy, mas pelo andar da carruagem, o projeto ficou só na vontade mesmo.

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