#215 Magic (1978)

Vou começar esse texto falando que não conhecia esse filme e foi graças a uma enquete de um perfil gringo no twitter que fiquei sabendo da existência desse boneco maldito. Se é maldito mesmo, a gente chega lá. Outra coisa é que quando procurei para assistir, não quis buscar nada de informação sobre ele, deixei que a imaginação trabalhasse e criei a impressão de que ele seria uma espécie de Na Solidão da Noite (1945), mas para minha surpresa, em nada se parece, a não ser a presença de um ventríloquo e seu inseparável boneco. Porém, minha surpresa maior foi ver a presença de Anthony Hopkins e vários outros nomes importantes e relevantes para o cinema envolvidos nessa produção, como Jerry Goldsmith que assina a trilha, William Goldman que assina o roteiro deste e de outros como Maratona da Morte (1974) e Todos os Homens do Presidente (1976) e o fantástico Richard Attenborough que assina a direção e muitos da minha geração deve se lembrar dele como o velhinho rico dono do Parque dos Dinossauros (1993), ou seja, Magic (1978) te leva a tantos talentos e a tantas outras obras tão primorosas quanto esta. Mas, a presença de estrelas e talentos não param por aí, ainda tem Victor J. Kemper que trabalhou com nomes importantes como Sidney Lumet, John Cassavetes, Robert Wise e tantos outros na cinematografia e no elenco, abrilhantam ainda Ann-Margret, Burgess Meredith e Ed Lauter, além de Hopkins, claro.

Na trama, acompanhamos a jornada de Charles Corky (Hopkins), um homem inseguro que falha em sua primeira apresentação como mágico num clube e que conta outra versão para seu mentor, Merlin(!) e, enquanto ele narra a fantasia que só aconteceu na sua mente, nós vemos o quão fracassado foi seu show. Merlin diz que para ele obter sucesso, terá que mudar e melhorar seus truques, é quando filme dá um salto no tempo de 1 ano e então já temos o mesmo clube com uma fila imensa enquanto presenciamos painéis e cartazes com o rosto do mágico, agora sucesso, estampando toda a fachada da casa. Seu truque é comandar um boneco ventríloquo desbocado e pornográfico chamado Fats. Corky agora tem seu próprio agente, o ambicioso e sagaz Ben Greene (Burgess Meredith) o qual Fats se refere a ele só como "gangrena" e que quer fazer de Corky e Fats um grande sucesso na TV e está quase conseguindo. Só que uma das exigências para Corky entrar na TV, além de toda documentação necessária, era fazer um exame médico, protocolo básico, mas que parece apavorar Corky. Porque tanto medo pela possibilidade apenas de ser avaliado por um médico? É o que nos perguntamos e, diante da maior oportunidade que já teve na vida, ele foge e foi parar em Catskills, lugar onde cresceu e onde encontra sua antiga paixão colegial Peggy (Ann-Margret) que agora está casada com Duke (Ed Lauter), mas numa relação que já não existe amor. Ele aluga um quarto em seu rancho e entre truques, conversas, confissões e sexo, a intimidade dos dois vai causando ciúmes não só em Duke, mas também em Fats, que numa discussão esquizofrênica entre Corky e o boneco, é flagrado por seu agente que saca logo o motivo dele fugir e não querer fazer o exame médico. A expressão de derrota e embasbacamento de Greene, é tão, mas tão magnifica que você passa a demarcar a partir dali como o momento crucial de virada do filme e acompanhar com mais atenção o que Corky será capaz de fazer para não ser totalmente descoberto. 

O filme é permeado o tempo todo por uma tensão que induz a gente a se questionar do que aquela relação é feita, se baseada no sobrenatural ou se pura esquizofrenia de Corky. Uma relação tão estranha que chega ao ponto dos dois se fundirem num amalgama de pensamentos, atitudes e até de se vestirem iguais. Quem é Corky e quem é Fats? Hopkins está magistral e extremamente perturbador nessa figura mentalmente quebrada, que ora transparece frieza e morte e ora deixa transparecer apenas no olhar toda sua fragilidade e doçura. O mais incrível disso tudo, foi o comprometimento dele para a obra, pois é ele quem opera o boneco o tempo todo e mostra o quão talentoso e disposto a realizar o papel ele estava.

Outro dia vi alguém no twitter comentando que não entendia esse fascínio do horror por bonecos e eu só fiquei pensando na enorme oferta de filmes incríveis e assustadores que o gênero oferece, desde os mais famosos até os independentes, porem excelentes como o já citado Na Solidão da Noite (1945), Brinquedo Assassino (1988), Annabelle (2014) e o contemporâneo Megan (2023) até os menos falados e subestimados, porém excelentes como Bonecas Macabras (1987), Gritos Mortais (2007) e Boneca Assassina (1991), só para citar alguns exemplos que demonstram toda a estranheza atrelada a delicadeza e inocência de um boneco ou boneca.  

Algumas curiosidades interessantes sobre Magic, é que quem quase foi escalado para fazer o papel de Corky foi Jack Nicholson, mas recusou pois não queria usar peruca. Será que é verdade? Eu dei boas risadas quando li isso. Outra coisa é que quem quase dirigiu o filme, foi Spielberg, que expressou interesse e até cogitou escalar Robert De Niro para Corky, mas Attenborough terminou aceitando dirigir. É um filme que irei recomendar fortemente daqui pra frente pois deveras fantástico. Uma trama que explora transtorno mental de uma forma macabra e bem perturbadora, além de ser daqueles filmes que acabam sendo bem mais do que o simples mote oferece, e talvez more aí o titulo que leva, claro, no original, porque o deram aqui no brasil, dá nem pra comentar de tão tosco. Há rumores até de que Sam Raimi cogita fazer um remake e confesso que gostaria de ver como isso ia ficar.






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