Bem antes da babá Laurie Strode enfrentar Michael Myers, um assassino mascarado nos subúrbios dos Estados Unidos em Halloween de 1978, ou da babá vivida por Carol Kane ser aterrorizada no telefone por um psicopata em Mensageiro da Morte de 1979, Susan George viveu a babá Amanda em Noite de Pavor (Fright) de 1971. O Filme britânico dirigido por Peter Collinson, é considerado como o estopim para que, não só a década de 70, mas também as décadas vindouras, se dedicassem a produzir filmes com essa temática de babás sofrendo ameaças de assassinos ou enfrentando invasões em seus locais de trabalho de homens mentalmente perturbados.
Em Noite de Pavor, Amanda é uma estudante universitária que é contratada por Helen (Honor Blackman) para cuidar de Tara, seu filho com Brian Lloyd (Ian Bannen), um homem agressivo, violento, psicótico e que se encontra preso num sanatório. Ela é uma mulher traumatizada e ao longo do filme ficamos sabendo dos motivos que a levaram a ter tanta cautela e viver sempre em alerta. Quando Amanda entra em sua casa, percebe certos comportamentos e atitudes que acabam causando estranhamento, mas entende o receio de se morar numa propriedade rural. Helen e seu namorado Jim (George Cole) estão saindo para jantar com o amigo Dr. Cordell (John Gregson) e deixa todas as recomendações possíveis para Amanda.
Já sozinha na casa, um ambiente descrito pelo próprio Jim como velho, escuro e mofado, Amanda passa a ver rostos aparecendo na janela, para logo em seguida ouvir a campainha tocar. É seu namorado Chris (Dennis Waterman) e ela hesita em deixa-lo entrar, mas cede e os dois acabam tendo momentos de intimidade e discussões acerca de comportamentos e traumas sexuais até manda-lo embora. Enquanto Helen, Jim e Dr. Cordell tem conversas reveladoras sobre Brian, na casa, um misterioso desconhecido aparece para Amanda. Ela não sabe, mas está diante do ex marido de Helen que acabou de escapar do hospício.
Todo o suspense e medo já foram construídos até aqui, mas os momentos mais tensos, fica a cargo das cenas divididas entre a jovem Amanda e Brian que rapidamente começa a alucinar achando que a garota é sua esposa Helen. Não lhe resta nada, a não ser entrar no jogo do psicopata e tudo evolui para momentos verdadeiramente apavorantes, principalmente quando a polícia chega na casa e logo em seguida Helen.
Em entrevista, Susan George comenta sobre a experiência de filmar Fright. Ela fala de como Peter Collisnon abraçou aquela ideia fazendo de Fright uma produção primorosa, mas também fez de Collinson um diretor subestimado, mesmo recebendo elogios da crítica na época. E de fato, o filme é muito bem filmado e ele soube posicionar sua câmera em ângulos que fica até difícil de escolher um único “perfect shot”. As cenas de enfrentamento de Helen e Amanda com Jim, são apavorantes quando são vistas pela perspectiva de primeira pessoa. São sequências que ficam com você por horas e acredito que até por dias.
É interessante observar também a evolução da personagem de Amanda, desde que chega na casa até sua ultima cena e de como o personagem Brian vai contaminando todos com sua loucura e violência. É de impressionar de como aquela era uma época em que o cinema colocava seus atores em risco, como a que o filho do próprio diretor, Tara Collinson foi exposto. Coisas que hoje são impensáveis como colocar uma criança sob a mira de um imenso caco de vidro (de verdade). Susan comenta sobre isso na entrevista e fala que, embora entenda o ponto de vista do diretor e da época, jamais colocaria sua criança naquela posição. Ela diz que ficou o tempo todo acalmando a criança no set, enfatizando de como aquilo era de mentira ou uma brincadeira e parece que deu certo, o menino se mantém incrivelmente calmo e imóvel durante todo o tempo em que é colocada em perigo. E perigo de verdade. Outra coisa que ela fala é da atuação de George Cole e como ele nunca saía do personagem deixando todo o set nervoso. Na verdade, toda a ambientação foi trabalhada para essa construção do medo, sendo filmado em estúdio, a pedido do diretor, todas as luzes ao redor foram mantidas apagadas para dar justamente ar de nada em volta da casa. A mobília, a decoração, os simbolismos dos objetos, a moradia rural, tudo contribuiu para que Noite de Pavor saísse redondinho e perfeitinho.
Susan já havia trabalhado com Collinson e “ganhou” o papel de Amanda sem audição, ela também havia feito no mesmo ano Sob o Domínio de Medo com Dustin Hoffman. Já Honor Blackman, conhecida por seu papel de Pussy Galore em 007 Contra Goldfinger de 1964, fez também outras participações no terror, como a produção da Hammer Uma Filha para o Diabo de 1976 e que conta no elenco com uma jovem Nastassja Kinski e dos mais que respeitados Christopher Lee e Richard Widmark.
Se você quiser ter uma experiência verdadeiramente apavorante e se você, assim como eu vê esse tipo de filme como totalmente plausível e assustador, veja Noite de Pavor e saberá de como foi uma produção que influenciou tantas outras do mesmo gênero e tema.
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