2005 - EUA colorido 121 minutos
Direção: Francis Lawrence
Roteiro: Kevin Brodbin, Frank A. Cappello
Elenco: Keanu Reeves, Rachel Weisz, Djimon Hounsou, Jesse Ramirez, Shia Labouf, Pruitt Taylor Vince, Tilda Swinton, Peter Stormare Max Baker e Gavin Rossdale, entre outros e outras.
Cigarro no bico, um sobretudo amassado, gosto por goró (afinal, inglês), sinceridade exacerbada que há muito virou cinismo e relações com o sobrenatural, em particular, com o inferno, sendo essas bastante complicadas. Hoje na meia idade, desde os quinze perambula pelo mundo e não apenas o físico. Super poder? Um desprezo abissal pelas autoridades, sejam elas deuses, demônios, super heróis ou a polícia. Bem visto por alguns, detestado pela maioria, uma coisa é certa, John Constantine é fiel a seus princípios e amigos e amigas, uns coitados que, por não levarem a sério o dito que corre nas ruas de Londres que diz "John Constantine dá azar", não raro tiveram mortes horríveis e hoje moram no inferno.
Desde a sua primeira aparição na hq O Monstro do Pântano n°37 em 1985, o personagem cativou leitores e leitoras, afinal, não é todo dia que vemos alguém que desdenha de todo e qualquer poder instituído salvando o mundo sem que o mesmo se dê conta disso. Constantine age nas sombras, não usa roupas colantes com capa, não dá declarações a jornais e nem acredita num mundo melhor, ele conhece o chão onde pisa e enxerga o mundo como ele realmente é, sombrio e em célere caminhada em direção ao abismo, mas, Constantine não é um canalha, é sim, uma pessoa de convivência desagradável que fede a cigarros e uísque, mas, que odeia o mal e a injustiça, sejam eles humanos ou sobrenaturais.
Não foi pouca a alegria dos fãs e das fãs (eu incluidíssimo) quando, na primeira metade dos anos 2000, um filme dedicado a ele foi anunciado, a internet ainda era uma coisa tosca comparada aos dias de hoje e as informações eram bem básicas e neste caso em específico, pouco animadoras, pois Keanu Reeves viveria o personagem, que ao invés de inglês, seria americano, moreno ao invés de loiro e portaria uma arma (coisa que John Constantine abomina), entre outras inconsistências mais. No entanto, isso não impediu o filme de ser um sucesso e formar filas nas portas das salas de cinema, eu mesmo fui assistir no primeiro sábado em cartaz e vi duas vezes seguidas, numa época em que isso ainda era possível pagando apenas uma entrada. Agora, uma dica para assistir esse filme e se divertir horrores: esqueça a maior parte do que falei até agora sobre o personagem, se não o fizeres, a experiência pode ser decepcionante.
No filme de 2005 Constantine foi diluído quase ao extremo para poder agradar o paladar de um público careta que, diferente dos leitores e leitoras da hq, não se importaria de ver as mudanças apresentadas, o que se revelou verdadeiro, para o bem e para o mal.
Tudo começa quando parte da Lança do Destino, um artefato místico usado pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial, é encontrada. Seu descobridor (Jesse Ramirez) não comemora por muito tempo, pois é possuído quase que instantaneamente para, em seguida, começar uma caminhada em direção à Cidade dos Anjos, a popular Los Angeles. Mesmo que ainda distante de seu destino, a Lança influencia os lugares por onde passa e até mesmo quem está longe, que o diga Constantine, aqui reduzido a um exorcista(!) que luta para ser recebido no Paraíso após a sua morte, já que sua vida está sendo abreviada por um câncer que lhe devora os pulmões, culpa das dezenas de cigarros que fumou por dia desde a adolescência. Durante um ritual de exorcismo, Constantine percebe uma sutil diferença no modus operandi do demônio, o que lhe levanta suspeitas, pois, o pacto entre o Céu e Inferno é bastante claro e diz que nenhuma das partes pode se meter diretamente nos caminhos da humanidade, apenas influencia-la e, dependendo do grau de persuasão, ao fim da vida ganha-se o a paz ou o tormento eternos.
Seja lá o que esteja acontecendo, está errado e Constantine quer reverter isso antes que tudo se consume, condenando-o ao destino que, compreensivelmente, quer evitar, já que quando jovem, após "morrer" numa sala de emergência de hospital por alguns minutos, foi enviado diretamente para as profundezas e como lá o tempo não existe, padeceu das agruras reservadas aos seus habitantes e ao retornar, carregava consigo as sensações indescritíveis lá experimentadas. Aproveito para louvar o visual do inferno, uma caricatura do nosso planeta, só que em ruínas, exalando calor e a mais completa falta de esperança, lindo de morrer, realmente. Voltemos. Ao mesmo tempo, temos uma investigação de suicídio comandada por Angela (Rachel Weiss), a vítima, Isabel, era a sua irmã gêmea, uma mulher que dizia poder contemplar o sobrenatural e que, apesar de ter sido internada várias vezes na vida, não tinha instinto suicida, detalhe que faz com que Angela se dedique com afinco à verificação dos fatos, o que acaba fazendo com que seu caminho cruze com o de Constantine, que, cristalino como água, assegura à mulher que a irmã dela está mesmo no inferno, por que é isso o que acontece com quem tira a própria vida e ponto final, num dos poucos momentos em que o personagem age como o seu homônimo dos quadrinhos, mas, um ataque direto de uma horda de demônios faz com que ambos juntem as forças e procurem descobrir as verdades por trás dos recentes acontecimentos. Com suas suspeitas se confirmando a cada frame, o nosso anti herói sai atrás das peças desse quebra-cabeças feito de enxofre, onde cada segundo conta para impedir que um destino horrível tome conta do planeta.
Pois é, se nos despirmos dos olhares de fãs e leitores da hq, Constantine se revela uma boa diversão de tardes domingueiras amparada por excelente elenco que conta com Djimon Hounsou, Tilda Swinton, Rachel Weisz, Peter Stormare, Pruitt Taylor Vince e um Shia Labouf prestes a se tornar estrela imprescindível de vários blockbusters da época. O filme ganhou uma adaptação em livro escrita por John Shirley no mesmo ano, além de um videogame lançado também em 2005, com a participação de Swinton, Rossdale e Max Baker.
O filme é uma adaptação que não se aproveita como poderia e deveria do material original, mas diverte e tem Keanu Reeves e se tem Keanu, tamo na vantagem. Eu tu, eu via.
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