Primeiramente gostaria de pedir desculpa aos queridos leitores, porque hoje não vou falar de um filme (não de longa-metragem, pelo menos). Vou falar de um episódio de série mas, como é uma série antológica, você pode assistir como um média-metragem, por que não?
Esse episódio é especial por um motivo: ele foi o responsável por dar ao Rod Serling carta branca para fazer Twilight Zone. Servindo como piloto — não exatamente o piloto de Twilight Zone que a gente conhece, que é o episódio 1 da temporada 1, “Where Is Everybody?”, que também é excelente, mas o piloto que apareceu em outra série e mostrou aos executivos da CBS que Serling era um cara esperto e muito, muito imaginativo.
Mesmo que você nunca tenha assistido a um episódio de Twilight Zone, já deve ter ouvido falar da série. Uma antologia que ficou cinco anos no ar, de 1959–1964, e inspirou gerações que vieram depois dela, Rod Serling comandava o show avisando que há, sim, uma quinta dimensão, além daquela conhecida pelo homem. Uma dimensão tão vasta quanto o espaço e tão eterna quanto o infinito. Essa dimensão, que fica no meio da luz e das sombras, no meio da ciência e da superstição, e que fica entre o poço dos medos do homem e o ápice de seu conhecimento, é a dimensão da imaginação, que é chamada de Twilight Zone.
Eu fico toda arrepiada com essa abertura narrada pelo Serling. Considerado um gênio por muitos e o Shakespeare da ficção científica e do terror por mim, Serling era um cara pra lá de inventivo. Além dele, que era o maestro por trás dessa sinfonia de horrores e fantasias, outros nomes de calibre altíssimo participaram da série como escritores, como Ray Bradbury e Richard Matheson (com 14 episódios).
Mas antes de Twilight Zone existiu o Westinghouse Desilu Playhouse. E “The Time Element”, o primeiro e original piloto da série de Serling, escrito por ele, enquanto tentava dar à luz a série que havia planejado, apareceu nessa série antológica. Muita gente braba apareceu e trabalhou na Desilu, incluindo Desi Arnaz, que era o cara por trás da ideia toda, e estreava com a Lucille Ball o programa I Love Lucy; a própria Lucille; John Drew Barrymore, pai da Drew Barrymore; e mais uma galerona.
O Desilu ficou somente um ano no ar, o que é pouco comparado à eternidade de sucesso de Twilight Zone, mas rendeu sua grana para a emissora e show.
Agora, sobre "The Time Element", ele guarda aquelas características que seriam exploradas posteriormente na série do Serling. Um pouco menos excêntricas, um pouco mais contidas, mas a estranheza, todo o absurdo e o desconforto que o Serling foi tão bom em criar e levar para as casas de milhões de pessoas, está lá.
No episódio, um homem chamado Peter (William Bendix) procura um psiquiatra, dr. Arnold Gillespie (Martin Balsam) para ajudá-lo em uma questão. O homem tem tido um sonho recorrente em que acorda em um hotel que não conhece, em Honolulu, no dia 6 de dezembro. Ele acha que passou por algum tipo de ressaca braba, até descer ao bar e descobrir que, na realidade, está em 1941, não 1958. No bar ele conhece dois jovens recém-casados. Um dele faz parte da equipe de engenharia da embarcação Arizona.
Agora, um minuto de história: No dia 07 de dezembro de 1941, o Japão enviou cerca de 353 caças, bombardeiros de nível e de mergulho e torpedeiros à base norte-americana de Pearl Harbor. O ataque ficou conhecido como o responsável pela entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, levando em consideração que até aquele momento ele era um país “neutro” na guerra. Pois bem, não vou entrar aqui na questão histórica pra discutir toda essa bagunça entre Japão e EUA, coisa que nem mesmo o Serling faz no episódio — a questão não é quem esteve certo ou errado, e sim o episódio histórico em si — mas esse contexto é importante porque o Serling fez muito isso ao longo dos seus anos como escritor, inserindo detalhes históricos e principalmente sobre a Segunda Guerra Mundial, ele mesmo tendo sido soldado e ficado aterrorizado pelas experiências. Então é um detalhe importante ao longo da carreira do escritor, que se colocou contra guerras em diversas discussões, inclusive dentro de Twilight Zone, com sua assertividade em diversas questões o levando a ser conhecido como um cara irritadiço e muito pocas ideia.
Bom, é de se imaginar que, durante esses sonhos, quando o homem tenta alertar a todos que o ataque a Pearl Harbor vai acontecer, ninguém acredita nele. Essa maldição de Cassandra, junto dessa sensação de angústia da qual o personagem — e nós, por consequência — sabe do que vai acontecer e não há ninguém que possa ajudá-lo é destaque em diversos episódios de Twilight Zone. O desconforto generalizado ao longo da série, inclusive, é um dos motivos por que ela se tornou tão duradoura.
Bom, eu sou uma grande fã do Rod. Até hoje não terminei de assistir Twilight Zone, mas isso não é um problema. Ainda acredito ter tempo para gastar com a série. Deixo aqui a recomendação. Se não de assistir a série inteira, pelo menos procurar alguns dos episódios-chaves, para conhecer a grande mente do Serling.
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