O Nevoeiro
2007, EUA colorido 126 minutos
The Mist
Direção e roteiro: Frank Daranbont (baseado em conto homônimo de Stephen King presente na coletânea Tripulação de Esqueletos)
Elenco: Thomas Jane, Laurie Holden, Andre Braugher, Toby Jones, Márcia Gay Haiden, Frances Sternhagen, Melissa McBride, William Sadler, Jeffrey DeMunn, entre outros e outras.
Uma forte tempestade cai em Bridgton, Maine. No outro dia, restam aos moradores e moradoras calcularem os prejuízos, em especial, a família Drayton. O pai, David (Thomas Jane) é um talentoso ilustrador de cartazes de filmes cuja casa foi bastante afetada pela tormenta, com direito a uma árvore familiar ancestral destruindo parte do imóvel, enquanto uma outra, pertencente ao terreno de Norton (Andre Braugher), seu vizinho, destruiu a casa do barco, trazendo outras preocupações além das causadas pela chuva, já que um entrevero anterior entre ambos tinha sido resolvido nos tribunais. E como se não bastasse, a família observa um nevoeiro do outro lado do lago e estranham a formação do mesmo, que desce as montanhas, algo incomum, mas, eles acham que o apuro meteorológico da noite anterior é a causa dessa anomalia.
Diferente do que previam, os vizinhos chegam a um entendimento e Norton, que teve seu carro esmagado por uma outra árvore, aproveita o momento de civilidade e segue com David e seu filho Billy (Nathan Gamble) em direção ao centro para fazer compras, quando percebem na estrada uma movimentação incomum de veículos do exército e lembram que existe uma base no cume das montanhas. O supermercado está em polvorosa, a cidade está sem energia ou sinal de telefone, atrasando vários serviços de uma população que está com pressa. Aos poucos, a movimentação incomum das ruas começa a ser percebida pelas pessoas presentes e então uma sirene soa, fazendo todos gelarem, nós, o público, incluído. Pouco mais de dez minutos de filme se passaram e independente do controle remoto estar ao nosso alcance, nos descobrimos ilhados com eles e elas numa situação que logo ganha contornos desesperados, quando um homem ensanguentado (Jeffrey DeMunn) adentra o comércio aos gritos e anuncia "TEM ALGO NO NEVOEIRO!" para segundos depois o mesmo cobrir a cidade.
Abrigados na loja, quanto mais não se consegue enxergar lá fora, mais cristalinas começam a ficar as posições e atitudes de algumas pessoas lá dentro e teorias sobre o nevoeiro que vão da morte pura e simples à poluição pipocam entre os presentes. Não demora muito para que grupos se formem com planos distintos entre si, ainda que não saibam muito o que está acontecendo e mesmo quando colocados a par de que uma criatura impossível cheia de tentáculos de inspiração claramente lovecrafteana matara um jovem e impetuoso funcionário da loja, a maioria aposta na descrença para seguir em frente, pior para eles, melhor para nós, pois sim, algo assustador e desconhecido está lá fora, remodelando a paisagem ao mesmo tempo em que descobre novas funções para o corpo humano. Parte do que se esconde na névoa, atraído pelas luzes de lampiões, chega ao supermercado, criaturas insectóides horrendas, cuja aparência transmite real sensação de perigo e que, apesar da ameaça que representam e guardadas as devidas proporções, são apenas os “mosquitos” dessa raça. Parabéns Greg Nicotero e Howard Berger pela enésima excelência, dessa vez inspirados pelos traços do próprio Darabont, Jordu Schell e Berni Wrightson.
Como tudo o que está ruim pode e vai para piorar, não bastassem essas mazelas, ainda temos que testemunhar a Sra. Darmody (Marcia Gay Hayden, excelente), uma fundamentalista religiosa, a inflamar os ânimos dos sobreviventes, colocando a culpa dos acontecimentos na justiça divina e nos pecados dos presentes, fazendo algumas pessoas perceberem que continuar ali pode ser tão perigoso quanto as criaturas.
O diretor e roteirista francês Frank Darabont não era alheio ao universo do horror e nem aos trabalhos do escritor Stephen King, ele escreveu os roteiros de A Hora do Pesadelo: Os Guerreiros dos Sonhos (1987), A Bolha Assassina (1988), remake do filme homônimo de 1958 estrelado por Steve McQueen (1930 - 1980) em seu primeiro papel principal, além dos roteiros de “The Ventriloquist Dummy” e “Showdown”, episódios da série Contos da Cripta, em 1990 e 1992. Também em 1990 fez a sua estreia como diretor, com o filme Sepultado Vivo e em 1994, dois filmes com sua assinatura no roteiro chegariam às telas, Frankenstein de Mary Shelley (de Kenneth Brannagh) e Um Sonho de Liberdade (The Shawnshank Redemption), baseado em história presente no livro As Quatro Estações, de Stephen King (lançado originalmente em 1982), sendo o último também dirigido por ele. Quatro anos depois, um outro livro de King seria adaptado por Darabont, dessa vez, À Espera de Um Milagre, baseado no livro homônimo do escritor, o filme recebeu quatro indicações ao Oscar, entre eles, O de Melhor Roteiro Adaptado. O Nevoeiro estava na mira do diretor desde antes do lançamento de um Sonho de Liberdade e fora pensado originalmente para ser lançado em preto e branco, mas, outros compromissos adiaram essa vontade, que só viria a se concretizar em 2007, com resultados que ecoam até hoje, junto com os gritos dos sobreviventes e os nossos, ao final do filme, um dos mais tristes da história do cinema de horror, saliente-se.
Anos depois, Frank Darabont dirigiria as duas primeiras temporadas de The Walking Dead, exitosa série de zumbis que já deu fruto a diversos spin offs, mas, foi em O Nevoeiro que ele desgraçou a cabeça de toda uma geração e continuará fazendo com quem tiver a sorte de assistir e aviso logo, o impacto com revisões só aumenta. Isso é bom.
Em tempo, no ano de 2017 uma série baseada no conto foi lançada. Fiquem longe dela, pois deprimentemente sem graça, tanto que foi cancelada pela baixa audiência ainda na primeira temporada.
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