Um jovem ambicioso, ousado e pocas ideia resolve brincar de Deus e quer criar vida a partir de corpos mortos. Fazendo experiências na sua biboca enquanto estava na faculdade, o cretino Victor Frankenstein consegue o que ele tanto queria, mas aí não aguenta segurar essa barra, não tanka sua criação, e foge do pobre-diabo tal qual o próprio diabo foge da cruz. Até que a Criatura de Frankenstein começa a perseguir seu infeliz criador e, novamente, Victor não consegue segurar essa barra. O cara é um molenga.
Acho que a maioria conhece Frankenstein, né? Pelo menos de algum dos filmes dele. Clássico escrito pela GRANDE mãe de todos nós Mary Shelley, o livro é denso, tenebroso, claustrofóbico, arrepiante e te dá aquele desconforto quando você termina de ler. Reflexivo, triste, deprimente, já houveram diversas interpretações, adaptações, reescritas e tudo o que se possa pensar dessa obra-prima do terror. Eu costumo amar todas. Frankenstein, pra mim, é A história, uma das minhas favoritas.
Esse Frankenstein de Mary Shelley vem na mesma onda, dois anos depois, de Drácula de Bram Stoker do Coppola. Menos charmoso e com menos figurinos elegantes (a Eiko Ishioka provavelmente não estava disponível). E, assim como o Drácula do Coppola, não é uma adaptação exatamente fiel — apesar de que, considerando outras adaptações de Frankenstein, é a mais próxima. Muito próxima, aliás. Com exceção do final (que, assim, sem comentários. É de uma ironia profunda. E, por incrível que pareça, ele consegue reunir elementos dos filmes clássicos de 1931 e 1935).
Não, eu não acho que filmes baseados em livro precisam ser exatamente iguais. Gosto de adaptações e filmes baseados porque eles dão novas camadas, novas interpretações às obras que eu gosto, então não cobro certas semelhanças. Mas eu queria ver uma adaptação realmente parecida com alguns clássicos, porque acho que eles ficariam incríveis. E Frankenstein é uma delas. Esse filme aqui faz, sim, um bom trabalho, mas ele escorrega em algumas coisas.
O filme foi dirigido por Kenneth Branagh (protagonizado, produzido, etc etc, o Branagh é um canastrão que faz isso com frequência), e roteirizado por Steph Lady (que não fez muitas coisas de acordo com o IMDb), e Frank Darabont (sim, de Um Sonho de Liberdade, À Espera de um Milagre e O Nevoeiro — eu queria saber como essa amizade começou).
O que dizer do Kenneth Branagh, né. Eu sou fascinada pela carreira dele. O cara faz muitas adaptações de filmes, de Frankenstein a Shakespeare, e agora tá aí trabalhando com histórias da Agatha Christie, mas ele é tipo o Guy Ritchie do melodrama — digamos que se o Kenneth e o Guy tivessem um filho, o filho seria o filme Coração de Cavaleiro. E, além disso, ele gosta muito de protagonizar os próprios filmes.
Mas estou divagando.
O que me incomoda nesse Frankenstein é o tamanho do ego do Kenneth. Conhecendo a carreira dele como conheço, por mais que o filme seja fiel, eu sei que tem coisas ali que são por ego. Não me entendam mal, talvez por esse motivo mesmo o Victor do Kenneth seja tão bom — mas aí algumas coisas ficam para trás. A Elizabeth, interpretada pela Helena Bonham Carter, é um bocado excêntrica. A profundidade da Criatura, que é um dos pontos altos da narrativa de Shelley, onde ela conta como foi assustador sobreviver na floresta, sem ser amado por ninguém, o diálogo incrível que a Criatura tem com Victor, tudo isso é perdido. O foco, claramente, é no desespero do Victor. E como sabemos que ele é um cretino, porque a gente leu o livro, esse personagem não cola.
Agora, se assistirmos esse filme com uma lente de cinismo e toda vez que o Victor aparece com aquela cara de cachorro que caiu da mudança a gente pensar “hm, tá”, aí ele fica realmente bem fiel ao livro.
Não se enganem: isso aqui é, sim, uma recomendação de filme. Talvez eu seja muito crítica com Frankenstein, eu entendo, porque Frankenstein moldou muito da minha vida, e é por ele que estou aqui hoje, mas deixem de lado a parte que eu falo mal do filme e foquem que, entre as outras adaptações, essa aqui é uma das mais fiéis à narrativa (ou ao Victor Frankenstein, ok). E, assim, Robert De Niro faz a Criatura. Isso não é incrível? Então, assim, ele não faz justiça à Criatura, mas é uma boa história.
O filme tem seus pontos altos, tem seus pontos baixos, então, se você gosta da história de Frankenstein, vale sim perder suas umas duas horinhas com esse aqui. Mal não vai fazer.
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