Quando Danishka Esterhazy teve a ideia de recontar para dias atuais o clássico e tão adorado por fãs de terror The Slumber Party Massacre de 1982, o horror já vivia um momento de grande abertura e pluralidade de histórias. Roteiristas e diretores, já não eram mais os mesmos dos primórdios dos anos 1980 e a diversidade fez com que ela visse uma oportunidade de recontar esse clássico.
Vinda de Winnipeg, Canadá, Danishka que já tinha feito sua incursão no gênero com Black Field (2009), Level 16 (2018) e The Banana Splits Movie (2019), lembra em entrevistas da semelhança de sua trajetória com a da diretora da obra original Amy Holden Jones e comenta sobre a dificuldade de mulheres serem aceitas e inseridas nesse meio. Ela tem respeito ao original, mas tinha vontade de expandir aquele universo que, segundo ela, tinha muito a ser contado sobre temas como mulheres horrorizadas, principalmente se tratando de um filme feito por e com mulheres.
Se o antigo Slumber Party Massacre ainda carregava os velhos exageros bobos, clichês e tropos de um slasher que hostilizava e idiotizava a figura feminina, mesmo tendo uma mulher como diretora, o novo Slumber vem subvertendo o subgênero pegando carona numa onda de filmes feitos para repaginar os filmes de assassinos. O moralismo muito presente em obras de outrora, chega com a nova onda quase inexistente, como as final girls como figuras proativas e sem o ar de ser virginal e inocência. Ou até mesmo se masculinizando para poder dar conta de matadores incansáveis com suas armas fálicas.
A trama de 2021 tem início no ano de 1993com um grupo de garotas com os mesmos nomes das garotas do filme original, em uma casa isolada no lago que são aterrorizadas por um assassino que usa uma broca – ou parafuseira – gigante para massacrar as garotas. Seu nome: Russ Thorn (Rob Van), que igual as meninas, também leva o nome original do assassino de 82. Dessa vez, apenas uma delas consegue se salvar da morte, Trish Deveraux (Schelaine Bennett) já no presente adulta com uma filha adolescente chamada Dana (Hanna Gonera) e que aparentemente quer seguir a história da mãe para uma vingança. Só que a mãe não sabe e ela acha que Dana vai com as amigas apenas passar um final de semana só de garotas. Maeve (Frances Sholto-Douglas), Breanie (Alex McGregor), Ashley (Reze-Tiana Wessels) e a de menor Alix (Mila Rayne), que entra escondida no carro.
Já instaladas na casa, elas ficam sabendo que o antigo assassino, não está tão morto quanto todos pensavam. É quando a trama começa a ganhar alguns contornos da história original, só que com algumas subversões. Do outro lado do lago existe a casa original onde ocorreu o massacre em 93 e é lá que estão hospedados uma ruma de homens abestalhados, membros do podcast de crime chamado Crime Bandits. Eles, assim como as meninas, também estão em busca de saber mais sobre o matador da broca gigante. Quando os grupos se encontram, as cenas memoráveis que em décadas passadas eram reservadas para as mulheres, aqui, são os homens que assumem o papel de seres idiotizados e sexualizados, com cenas em câmera lenta mostrando seus corpos malhados debaixo do chuveiro. Ou uma guerra de travesseiros onde eles riem como idiotas até cansarem deixando o ambiente repleto de penas flutuantes. Realmente é o auge essa distorção de gênero.
O filme vai ganhando contornos frenéticos, e para surpresa de ninguém, os homens fogem quando Russ chega, mas elas são do tipo que não fogem da batalha e mostram ser totalmente capazes de cuidarem de si, se brincar até dos machos também. O banho de sangue é digno e Slumber Party Massacre vai ganhando também algumas revelações e construindo sua própria identidade ao mesmo tempo em que homenageia seus antecessores. É um filme bem digno, irônico, subversivo e que me deixou com vontade de ver mais coisas da Esterhazy.
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