In the Earth
2021 - Inglaterra colorido, 107 minutos
Direção e roteiro: Ben Wheatley
Elenco: Joel Fry, Ellora Torchia, Reece Shearsmith, Harley Squires, John Hollingworth,m e Mark Monero
"Terra alheia, pisa no chão devagar", provérbio da Jurema
Folk horror me fascina desde antes de eu saber de sua existência enquanto subgênero e nem que o mesmo era sério objeto de estudos. Isolamento, misticismo, sacrifícios humanos e descrença na ciência são algumas de suas características, o interesse sobre o tema é tamanho que o folk horror já foi até tema de documentário, o excelente Woodlands Dark and Days Bewitched: A History of Folk Horror (2021, de Kier-La Janisse), pérola com mais de três horas de duração que nos mostra o caminho das pedras, elencando obras dos tempos mais primórdios até às lançadas já nos anos 2020, como este aqui, por exemplo, que eu já tinha visto e decidi rever e escrever sobre, por que, além do subgênero, gosto também de vários trabalhos de Ben Wheatley, diretor deste filme, que ainda por cima tem Reece Shearsmith no elenco. Shearsmith, para quem não conhece, é fã assumido de filmes de terror e junto com Steve Pemberton, é criador da subestimada Inside n° 9, série em formato de antologia com episódios independentes que trabalham vários gêneros, o horror entre eles.
Filmado em quinze dias e lançado em 2021, em plena pandemia e com tema similar, tudo começa com a chegada do Dr. Martin Lowery (Joel Fry, excelente) a Gantalow, uma estação de emergência no meio de um nada lindo de morrer. O mundo passa por uma epidemia de uma doença misteriosa cuja cura não parece estar próxima. Qualquer semelhança não é mera coincidência e temas comuns a aqueles dias, como isolamento social, exercícios físicos, saúde mental e saudade, todos rodeados de uma certa aura pessimista, estão presentes aqui. Martin, junto com a Alma (Ellora Torchia), uma guarda florestal, se embrenha na floresta para encontrar a Dra. Olivia Wendle, (Harley Squires), cientista que não faz contato há semanas, preocupando seus companheiros e Martin em especial, com quem costumava trocar cartas que um dia simplesmente pararam de chegar. Inicialmente simpático a conversas, afinal, estava em quarentena antes de se apresentar para o trabalho, Martin vai se tornando mais soturno quando os diálogos começam a ter foco em sua relação com a Dra. Wendle.
A caminhada é tudo, menos fácil, pois, impossibilitados de usar automóveis ou qualquer outro meio de transporte que lhes alivie a jornada que dura dias, eles têm que ganhar terreno passo a passo, numa imensidão verde onde se perder é tão certo quanto respirar se você não conhecer o local. No meio da segunda noite, eles são espancados e ao acordarem no outro dia, além de machucados, o acampamento está devastado e tudo de útil foi levado pelo assaltante, que ainda por cima deixou-os descalços, o que torna a caminhada mais lenta e perigosa, independente da direção que decidam tomar a partir dali. Eles continuam com o plano original e pouco depois Martin corta feio a sola do pé, deixando a missão ainda mais complicada. É quando Zach (Reece Shearsmith) entra em cena, um homem de aparência suja e conversa esquisita, mas, lascados que estão, ainda que desconfiados, aceitam a ajuda oferecida pelo estranho. Não demora para que Zach se revele um louco que acredita ter ligações reais com a floresta e os poderes que acredita emanar dela. Reféns e dopados, Martin e Alma se tornam atores numa fotonovela de magníficas imagens cujo diretor é um ensandecido, que aproveita para torturá-los, com foco especial em Martin.
Depois de algum sofrimento, ambos fogem e chegam ao acampamento da Dra. Wendle... e aí sim, os problemas deles realmente começam. In The Earth, igual à floresta que lhe serve de cenário, é um filme envolto em mistérios que trabalham a nossa fragilidade física e emocional, assim como a nossa vaidade intelectual, quando pessoas que sabem o que são e o que querem, são colocadas frente à frente com algo que estará sempre à frente da humanidade: a natureza e seus mistérios e ensinamentos, uma força tão poderosa que até hoje não a entendemos e erroneamente achamos que poderemos controlar. Jamais iremos e talvez, apenas talvez, um dia a entenderemos e assim, quem sabe, adiar a nossa extinção.
In the Earth não é apenas um filme, é também um mergulho nas nossas próprias impossibilidades e limites, uma obra onde a mistura de ciência e misticismo acaba por nos levar ao labirinto do pensamento onde nos vemos sem norte ao percebemos quão limitado é o nosso conhecimento sobre o que quer que seja e que nem com as respostas diante dos nossos olhos, conseguimos compreendê-las, pois antes delas vêm as perguntas e muitas vezes não sabemos como fazê-las, ou as fazemos de maneira banal, recebendo entendimento idem. Isso, quando ele vem. Vale.
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