#325 A Morta-Viva (1943)



Betsy, uma enfermeira canadense, recebe uma proposta de emprego e viaja para o Caribe para cuidar de Jéssica, a esposa do fazendeiro Paul Holland. Ela sofre de uma doença a qual eles chamam de paralisia cerebral. Betsy se apaixona por Paul, e essa paixão faz com que ela busque a cura de Jéssica para assim ver seu bem querer feliz. 

O filme é dirigido por Jacques Tourner com produção de Val Lewton em sua segunda incursão pelo gênero horror, depois do sucesso Olhos de Pantera (1942). A trama, que também tem partes adaptadas de Jane Eyre, é narrada pela enfermeira que já inicia o filme dizendo que andou com um zumbi (I Walked with a Zombie, título original do filme). A ilha do Haiti em que Betsy foi morar é habitada por negros descendentes de escravizados africanos que praticam o Vodu como religião. Durante o filme, o batuque dos tambores funciona como trilha, construindo uma atmosfera de terror em momentos pontuais, como quando ela fica sabendo pelo médico da família o que fez a esposa do seu patrão virar uma figura catatônica. No livro Horror Noire, aprendemos que esse tipo de recurso, dos tambores ao som de rituais, significa que o perigo está próximo e algo ruim está para acontecer. 

Ao saber por uma nativa que os deuses curaram uma mulher nas mesmas condições de Jéssica, Betsy resolve levá-la ao local dos rituais para uma possível cura. A caminhada pelo canavial é talvez o momento de mais tensão da história. Quero destacar o personagem Carrefour, interpretado pelo ator Darby Jones. Ele é um zumbi catatônico de aparência aterrorizante e olhos esbugalhados que tem a missão de guardar o canavial e a encruzilhada que leva ao templo Vodu. No entanto, Carrefour não só guarda o caminho, como também vira mais tarde o protetor da morta-viva, Jéssica. Vemos isso na cena final quando ele carrega o corpo da zumbi, agora morta de verdade, e a entrega para sua família.


A Morta-Viva é um filme esteticamente bonito, digno do nome Val Lewton, onde se brinca com luzes e com sombras para ajudar na construção de uma atmosfera pavorosa. Isso, juntamente com a fotografia preto e branco, fazem deste filme um dos marcos de filmes de zumbis por meio da religião e sobrenatural. 

Toda a problemática que envolve raça no filme, há de se levar em conta o contexto, pois era uma época em que os EUA ainda habitavam terras haitianas e promoviam o "white savior", como até hoje, né? RISOS. E, como muitos outros, sofre do seu tempo ao ser construído em cima de estereótipos de negros e da religião de matriz africana ao classificá-los como primitivos, selvagens e monstruosos. Ainda assim, é um clássico por abordar o terror de forma sugestiva ao mesmo tempo em que conta uma história de amor. 

A vida. O ciclo. O mar. Nele o filme começa. Nele o filme termina. Fim.







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