Eu nunca fui uma grande conhecedora de cinema no geral. Gostava dos meus filmes, tinha meus clássicos, assistia muita Sessão da Tarde quando era criança, mas demorou um pouco pra que eu realmente gostasse de filmes, fosse atrás, tentasse entender. Falando a real, até meus 18 anos eu morei em cidades que mal tinham cinemas. A cidade da minha adolescência até tinha um cineminha, com uma única sala, mas as coisas demoravam anos a chegar lá.
Enfim, quando me mudei pra cidade grande (just a small town girl energy), e quando entrei na faculdade, comecei a gostar mais, me aprofundar melhor. Em uma dessas fui com alguns amigos e professores a um festival que estava acontecendo por ali. Lembro especialmente de dois filmes nesse festival: Boi Neon e Mate-me Por Favor. Lembro de ter gostado de Boi Neon, mas Mate-me Por Favor ficou gravado em mim.
Nessa época eu nem trabalhava com terror, não sabia quase nada de cinema nacional (muito menos nacional e de gênero), mas não sei o que aconteceu que aquele filme tinha um negócio. Desde então eu não posso passar por uma rodada de recomendações de filmes sem me lembrar de citar esse aqui.
Em Mate-Me Por Favor, filme dirigido por Anita Rocha da Silveira, acompanhamos um grupo de jovens que se torna cada vez mais obcecado sobre alguns assassinatos que vêm acontecendo na região da Barra da Tijuca, no Rio. Quando Bia (Valentina Herszage) se depara com um desses cadáveres, uma chave vira dentro dela e ela passa a buscar certas emoções para ter certeza que está viva.
O filme não se concentra em encontrar o assassino dessas jovens. É claro, a gente fica curioso e começa a levantar suspeitas, principalmente com um dos personagens que aparece e caberia exatamente nesse papel. Mas, o que a gente acompanha, realmente, é esse grupo de amigas adolescentes, essa pulsão de morte, essa curiosidade que às vezes pode ser extremamente mórbida, mas que de vez em quando também beira a inocência.
Mate-Me Por Favor também traz algumas coisas que marcam o cinema de Anita Rocha da Silveira. Uma coisa que pode ser vista desde os curtas da cineasta é o tratamento da juventude. Longe de ser caricata, tem algo profundo e reverente nessa juventude de Silveira. E, se você assistiu Mate-Me Por Favor e assistir Medusa, nota-se que ambos são frutos da mesma pessoa.
O abuso do neon; a questão da religiosidade, que é também uma forma de inserção desses jovens em um grupo, que logo é transformada em pertencimento; a própria curiosidades que comentei ali, tudo isso é tecido dentro de uma história misteriosa onde nem sempre a resposta que a gente encontra está na pergunta principal. Aqui, o importante não é exatamente quem cometeu o crime, mas por que ele chama a atenção dessas jovens.
Mate-Me Por Favor é um filme incrível, e todas as vezes que revejo eu acabo gostando mais dele. Delicado, competente, Anita Rocha da Silveira se tornou uma das minhas cineastas favoritas e aguardo sempre com ansiedade o próximo filme que ela fará. É sempre um prazer poder recomendar seus filmes, principalmente esse aqui, que foi muito importante para mim.
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