Eram meados dos anos 2000 e a internet ia com tudo. Eu já costumava me reunir com os amigos e assistir DVDs alugados de filmes de terror, ou até mesmo uns comprados em banca de jornal, e isso tinha virado uma espécie de reunião que fazíamos as vezes. Assistíamos também o boom do cinema latino, graças ao nosso professor de Letras que sempre nos encorajava a irmos além das nossas zonas de conforto, do habitual, irmos além do nosso bairro.
Eu começava também a aprender a mexer com vídeo e, numa dessas, aprendi a gravar discos VCDs. E o torrent borbulhava! Assim, eu entrei em contato com sites de terror que falavam sobre a famosa lista dos filmes proibidos na Inglaterra e em outros países. Aquilo me fascinava. Um filme ser tão ultrajante a ponto de nem com cortes ser liberada a venda ou reprodução dele? Eu precisava ver esses filmes, precisava descobrir o que de tão horrível tinha ali para que decidissem que a sociedade não deveria por os olhos nele.
Eu assisti Guinea Pig. Aquilo foi um murro na minha mente. Veja bem, essa resenha é muito mais uma nota pessoal sobre esse média metragem que abriu portas para minha mente com a violência que um olho é perfurado em cena. Pouco há a ser dito sobre o filme.
Ele inicia com créditos explicando que a pessoa que lançou o filme recebeu um snuff movie, imagens de uma tortura e assassinato reais. Sugere em seguida que o corpo da pessoa encontrava-se pendurado em uma rede, no meio da mata. Adiante vemos uma mulher amarrada a uma cama sendo torturada com óleo quente, unhas arrancadas e outras situações angustiantes tentando provar o quanto um ser humano consegue aguentar até que morra. São 43 minutos onde não há praticamente nenhuma fala. Nenhuma trilha sonora, somente a interpretação impecável da atriz não creditada e da equipe de maquiagem.
Como descrito no livro "Guinea Pig: The Darker Side of Japanese Cinema", tudo ali é um teste, uma forma de rito de passagem grotesco que pergunta a quem assiste "por qual motivo você continua assistindo se ninguém está te obrigando?". E é exatamente essa a sensação que tive quando assisti. Porque continuo? O fascínio vem certamente com a chamada tortura pornográfica. Pra mim, saber que aquilo tudo foi ensaiado, que teve uma equipe pensando o que e como mostrar, maquiagem produzida, uma atriz atuando como se sofresse horrores, e fazer tudo isso de forma realista... Isso tudo mexeu comigo, foi meu rito de passagem. Não suporto e jamais verei coisas como Faces da Morte, mas observar os limites do cinema é algo muito fascinante.
O filme faz parte de uma franquia com 6 filmes e existem algumas anedotas ao redor deles, principalmente com relação ao segundo filme (e que muitos costumam se atrapalhar dizendo que é sobre o primeiro). Como a anedota é ótima, vale contar aqui. Em 1991, o ator Charlie Sheen recebeu uma cópia em VHS e acreditou no que via a ponto de entregar para o FBI. E sim, o FBI investigou, mas através de um documentário sobre como o filme fora feito, terminou cedo as investigações.
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