Dezembro, época de renovação, algumas pessoas aproveitam o final de ano para dar uma repaginada na decoração da casa comprando móveis novos ou reformando aquele antigo, outras renovam o guarda-roupa para as festas, já algumas, e com essas me identifico mais, não estão nem aí para essas baboseiras capitalistas ou então esperam as famosas promoções para comprar o tão desejado vestido ou qualquer outro objeto. Em Vestido Maldito (In Fabric), filme britânico escrito e dirigido por Peter Strickland, seguimos a jornada de um vestido vermelho matador. Poderia ser matador no sentido de beleza ou arrebatador, o que não deixa de ser também, mas aqui, o matador é no sentido literal mesmo, um vestido assassino que é adquirido durante uma liquidação de inverno numa loja de departamentos bem estranha. Sheila (Marianne Jean-Baptiste) é uma mãe de meia idade divorciada que trabalha de caixa num banco e mora com seu filho Vince (Jaygann Ayeh), um jovem adulto que namora Gewn (Gwendoline Christie), uma mulher mais velha e que por acaso é também sua professora de francês. Sheila, além de lidar com os estranhos patrões que vivem a lhe fazer advertências bobas, ela também está lidando com esse relacionamento, a implicante Gewn e a decepção a cada encontro marcado com homens por correspondência. É para um desses encontros que Sheila vai parar na loja Dentley and Soper’s, um empreendimento que é administrado por um grupo bizarro e que tem uma atendente gentil, atenciosa, porém estranha. Miss Luckmoore (Fatmah Mohammed), atende Sheila e a convence a levar o sedutor e atraente vestido vermelho que mistura chiffon e seda. Convenhamos que o estranho vestido dá uma baita forcinha. Ele parece que tem o poder de escolher suas vitimas e atender seus desejos, mesmo não sendo o manequim de Sheila, ele cabe perfeitamente. Se Sheila achava que sua vida era sem graça e cheia de problemas, ela vai conhecer agora o que é problema de verdade.
O diretor Strickland, que é conhecido por ter filmes com uma linguagem não muito expositiva, faz o mesmo aqui. As respostas que queremos, não são entregues de forma fácil e rápida. Ele prefere muito mais criar uma atmosfera e ir construindo esse horror que é bastante sensorial com cenas bem hipnotizantes, como quando a loja já fechada e as funcionárias junto com Miss Luckmoore estão limpando um manequim que parece bem realista. Sua vulva sangra e ela limpa a boneca num ritual bem fetichista onde o dono da loja Sr. Lundy (Richard Bremmer) observa atrás de um vidro enquanto se masturba.
Acontece algo com Sheila e o vestido vai parar numa espécie de brechó, onde é adquirido por amigos de Reg Speaks (Leo Bill), um mecânico de máquinas de lavar, que o obrigam a usar a vestimenta maldita na sua despedida de solteiro. Já em casa, sua noiva Babs (Hayley Squires) também experimenta o vestido e gosta. Que bruxaria é essa que o mesmo vestido que vestiu Sheila, vestiu Reg e sua noiva? Já sabemos nessa altura do campeonato que não estamos lidando com um vestido qualquer. Ele tem vontades e aparenta ser ciumento, onde mais uma vez exerce seu plano maldito.
Vestido Maldito foi uma grata surpresa que demorei
para assistir pelo tanto de críticas negativas que li e acredito que isso tenha
a ver com o fato de Strickland ser um diretor que não abraça as convenções fáceis
do gênero e por isso eu esteja bem ansiosa para assistir sua mais nova produção
chamada Flux Gourmet. ao mesmo tempo, In Fabric foi incluído em 2019 em algumas listas importantes de melhores filmes. Ele é esquisito, mas também elegante, tem crítica
ao consumismo e aos papeis de gênero, tem erotismo, tem humor ácido, tem
surrealismo, tem mortes, sangue e horror. Fica aí mais uma lição, pois além
disso tudo que falei, este é um filme verdadeiramente lindo com uma paleta em
vermelho e suas variações, os cenários, figurinos e até a textura da imagem parece
que foi trabalhada para ter o aspecto de uma eterna névoa. Se aceitas um
conselho, vá aberto e não espere tanto assim as respostas, se permita aproveitar
da estética e do sensorial que o filme te oferta, garanto que a experiência vai
ser proveitosa.
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