Quando vi A Casa do Fim dos Tempos foi numa cópia de DVD em casa e me apaixonei de primeira pela história torta de casa assombrada, um dos meus subgêneros favoritos. Então, num evento aqui no Recife, o filme passou no São Luiz, um cinema charmoso e um dos últimos de rua que ainda resta na cidade, não pestanejei e fomos eu e Queops ver na tela grande o filme venezuelano que estava dando o que falar no meio do terror.
Primeiro longa-metragem de Alejandro Hidalgo, que também produziu e escreveu o roteiro, A Casa do Fim dos Tempos acompanha Dulce (Ruddy Rodriguez), uma mãe de família que foi condenada injustamente pelo desaparecimento do filho e pelo assassinato do marido. Após cumprir 30 anos da pena, ela volta para a sua antiga casa em prisão domiciliar, mas não está muito feliz em voltar a viver no lugar que foi palco de uma tragédia. Pela condição de prisão domiciliar, sempre dois guardas tomam conta da casa, ainda assim, o pároco (Guillermo Garcia) da cidade passa a visitá-la com frequência, ele diz que acredita em sua inocência e Dulce confessa que aquela casa sofre de alguma maldição assombrosa que matou seu marido Juan José (Gonzalo Cubero) e desapareceu com seu filho Leopoldo (Rosmel Bustamante). Ela passa a receber visitas que Dulce chama de intrusos e a enfrentar revelações do passado que irão trazer algumas verdades que há muito ficaram escondidas no fluxo do tempo.
O mote parece simples e mais um filme clássico de filmes de fantasmas e é aí que mora a graça e toda a genialidade do roteiro que vem entortando a trama de forma a deixar a gente de queixo caído. O cenário de um casarão colonial decadente engana e enquanto presenciamos a velha Dulce ser novamente atormentada pelos intrusos invisíveis, os acontecimentos do passado vão sendo revelados para nós em forma de flashback e é quando ficamos sabendo que eles eram uma família de classe baixa composta pelos irmãos Leopoldo, o mais velho e Rodrigo (Héctor Mercado), o menor, eram irmãos aparentemente unidos, que adoravam brincar com outras crianças da rua, mas a relação dos dois começa a ficar diferente quando passam a enfrentar o ciúme e “disputar” a atenção de uma garota. Juan José é o marido de Dulce, ele passa os dias a procurar emprego e trabalhar em pequenos bicos, é sempre cobrado pela esposa por não fazer mais por eles e numa noite em que ele não está em casa, alguém tenta invadir o quarto de Dulce e de Rodrigo. A polícia é chamada no dia seguinte e confirma que não esteve ninguém ali. Os eventos se repetem e num dia Dulce faz visita a uma vidente que avisa que alguma tragédia naquela família está prestes a acontecer, ela diz a Dulce que os dois irmãos não podem mais brincar juntos e chegando em casa, a mãe, sem explicar nada, avisa a Leopoldo que ele está proibido de brincar com o próprio irmão. No dia da invasão, Leo recebeu um bilhete de alguém que avisou que era para ele entregar apenas para a mãe, nele está escrito “Juan José vai matar seu filho” e Dulce desesperada pergunta quem deu aquilo, Leo apenas diz “foi ela”.
De volta para o futuro, com as constantes visitas do pároco e as confissões de Dulce, ele começa uma investigação e descobre alguns segredos envolvendo a casa. Ela foi construída por um maçom inglês a cerca de 100 anos, pois ele acreditava que naquele local poderia encontrar a verdade absoluta sobre nossa criação, mas ele e a família desapareceram, assim como as outras que foram morar lá nos anos seguintes. Acho que já contei muito do filme e a graça é ir descobrindo qual o mistério que envolve de fato aquela casa.
Alejandro Hidalgo, nascido em Caracas, Venezuela, é um roteirista, produtor e diretor, suas influencias no cinema de gênero da década de 70, o levaram a fazer o primeiro filme de horror da Venezuela, com um tema que parecia já saturado e fez de A casa do Fim dos Tempos, o filme de terror de maior bilheteria daquele país. Aqui ele brinca com o espectador de forma a induzir a gente a se questionar quem é o verdadeiro vilão dessa história, ou se Dulce matou mesmo o marido ou se o filho sumiu mesmo. Hidalgo sabe aproveitar cada momento da trama que também conta com melodramas familiares, mas pode apostar que só faz acrescentar mais camadas e enriquecer mais ainda essa história. Ele brinca também com espelhos, onde vai deixando pistas para a grande revelação e, olha, que revelação.
Eu ficaria por mais tempo falando aqui sobre esse filme, pois gosto bastante, mas além de atrapalhar a experiência de vocês que ainda não assistiram, tenho que finalizar e postar o texto por motivos de atraso. É, é isso mesmo. Faça esse favor a si mesmo e dê essa chance antes que Hollywood pegue e faça um remake, aliás, isso vem sendo prometido já há algum tempo. Para um iniciante, digo com toda certeza que esse é um excelente começo. Depois desse, Hidalgo fez mais um longa chamado O Exorcismo de Deus (2022) produção entre Venezuela, México e EUA, mas não assisti ainda.
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