Após um hiato de sete anos sem o bichão Godzilla aparecer nas telonas, a Toho, que estava completando 30 anos de existência em 1962, lança aquele que seria o primeiro de muitos da franquia mais longa em linha reta em que o Godzilla enfrentaria outros monstros gigantes. E não escolheram qualquer gigante para ser o primeiro, é ele e simplesmente ele: THE King Kong. O projeto de ter dois monstros gigantes se enfrentando não começou ali, Willis O’Brien que foi o animador de stop motion do King Kong de 1933, tinha o desejo e o esboço já pronto de botar Kong para lutar contra um monstro do Frankenstein gigante. Parecia ousado, né? E era, mas imagina como ia ser foda ver esses dois se enfrentando? Com o projeto em mãos e sem nada falar para O’Brien, o produtor John Beck deu para a Toho produzir o filme, só que aí...bom...aí a gente sabe no que deu e por conta disso estamos aqui em 2023 falando sobre ele.
É sabido que o filme de 1954 é um clássico absoluto e abriu as portas para que o Japão criasse uma lenda cinematográfica que dura até hoje. King Kong vs Godzilla, é apenas o terceiro daquela que ficou conhecida como a Série Showa e foi o primeiro filme a apresentar os dois monstrões em cores. Ele marca também uma mudança do monstro destrutivo "vilão" para um personagem mais simpático e heroico que, ao invés de destruir tudo e todos, o que acho justo justíssimo, luta ao lado da humanidade contra as ameaças gigantes alienígenas.
Na trama, temos o Sr. Tako que é um executivo farmacêutico e patrocina programas de televisão, só que anda frustrado com a audiência de um programa sobre ciências e curiosidades. É quando um médico lhe conta sobre um monstro gigante que vive na Ilha de Faro e decide formar uma equipe para encontrar e capturar o monstro, pois ele acha que usando a criatura, sua publicidade e audiência, irão melhorar. Só que perto dali um submarino nuclear estadunidense é encarregado de investigar um iceberg que contem alta radiação e acaba ficando preso. Eles não sabiam o que lhes aguardava e descobrem da pior forma que aquele iceberg abrigava a criatura gigante Godzilla que estava preso desde 1955. Imagina a fúria do bichão??? Ele destrói o submarino e depois segue seu destino. No caminho para o Japão, ele ainda ataca uma base militar, deixando mais rastros de mortes e destruição. Esse é o Godzilla que conhecemos. Enquanto isso, na ilha de Faro, os nativos, com os rostos pintados de preto e eu realmente não sei o que pensar sobre isso, recepcionam os encarregados do sr. Tako e acontece aquele clichê de dar cigarros e outros objetos em troca de uma recepção mais amigável. O clima amistoso é interrompido quando um polvo gigante ataca a ilha em busca de liquido poderoso que os nativos extraem de uma planta, é quando o gigante protetor do lugar é revelado e Kong derrota o polvo, ganhando em troca esse tal suco. Num cerimonia tribal, os nativos batem tambor e entoam cânticos que parece hipnotizar Kong. Ele adormece e é levado de jangada (!!!) para o Japão. Kong acorda e agora com os dois monstros gigantes à solta, o Japão decide que King Kong deverá derrotar Godzilla numa batalha em que um dos dois sairá vitorioso, ou não.
Se nos filmes anteriores a tristeza era marcante como observaram Queops e Michelle em seus respectivos textos, aqui o tom cômico e satírico fica bem evidente. O confronto épico entre dois dos maiores monstros, até então, ajudou de vez a solidificar Godzilla como um verdadeiro monstro. O que se tinha pensado em fazer à princípio, era repetir a animação em stop motion do Kong de 1933, mas com o baixo orçamento, ficou inviável a ideia. A solução então foi vestir dois atores, construir maquetes e fazer a magia do cinema funcionar. Claro que com o olhar de hoje em dia, tudo se torna risível, mas na época, a coisa impressionou, pois, o que se via, eram dois monstrões empenhados em dar a melhor performance com chutes, rabadas, mãozadas, pedradas na cara e raios, muitos raios. Tudo isso só torna a diversão mais prazerosa, a meu ver, principalmente se for pensar em todo o trabalho por trás daquilo, desde quem construiu as maquetes, até os atores que suaram debaixo daquelas fantasias.
É interessante observar que, independente do tom dos filmes e do resultado do confronto final que gerou dúvidas e discussões sobre quem realmente venceu, haverá sempre uma mensagem por trás de tudo aquilo. Acredito que Ishiro Honda, além de toda a discussão sobre como os humanos tratam a natureza e usufruem dela em benefício próprio, há também questões sobre mídia, indústria televisiva e responsabilidade de como e que tipo de programas entregam aos telespectadores e o impacto que isso causa culturalmente. O filme foi um sucesso de bilheteria e deu aval para a Toho trazer seus outros Kaijus, como Mothra para a franquia Godzilla. Se você chegou ate aqui, te convido a continuar a nos acompanhar nessa empreitada de comentar os filmes do monstrão, te garanto que vai ser divertido.
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