EUA – 1985, Cor, 100 minutos
Day of The Dead
Direção e roteiro: George Romero
Elenco: Lori Cardille, Joe Pilato, Howard Sherman, Terry Alexander, Jarlath Conroy, entre outros.
São muito distintas as obras que compõem a trilogia dos zumbis original de George Romero, três filmes que se passam no mesmo universo com histórias e personagens independentes. Se A Noite dos Mortos-Vivos (1968), em preto e branco, reinventou a triste figura dos zumbis criando novos caminhos para o cinema de horror mostrando as agruras sofridas por um grupo de desconhecidos ilhados numa fazenda, uma década depois, em cores e com orçamento maior, Despertar dos Mortos (1978) também se passa no início do que viria se ser chamado de “apocalipse zumbi” e as informações sobre o que estava acontecendo também eram escassas e desencontradas, restava aos mais atentos e às mais atentas sobreviver, dessa vez entrincheirados num shopping center.
Esses filmes, ainda que com o final trágico do primeiro, nos passam a ideia de que se poderia resistir ao adversário. O Dia dos Mortos deixa claro desde o seu início que perdemos. E feio. Pouca coisa restou, as cidades estão infestadas de zumbis cada vez mais famintos e os poucos humanos restantes se escondem numa base militar subterrânea. Um grupo de cientistas com recursos cada vez mais escassos tenta achar uma cura, enquanto os militares, obtusos, começam a sabotar seus esforços, transformando o ambiente num barril de pólvora. No meio deles, Bill (Jarlath Conroy), um operador de rádio que dá demasiada atenção ao goró (quem pode culpa-lo?) e John (Terry Alexander), piloto de helicóptero, pessoas cujos conhecimentos as fazem indispensáveis, mas, que não estão muito felizes de continuar ali.
Para piorar, na superfície, um grupo cada vez maior de zumbis começa a cercar o lugar, deixando claro que invadir a base é uma questão de tempo, o que eles e elas têm de sobra. Sara, Bill e John defendem que fujam para um outro lugar e que se demorar mais por ali é se servir de bandeja pros novos donos do planeta, mas, sabemos desde o primeiro filme que o perigo nesse mundo em escombros não se resume àqueles e àquelas que voltaram da morte, as relações de poder e cordialidade, coisas que nunca foram muito equilibradas na história da humanidade, pioram num ambiente fértil em comportamentos odiosos. Que o diga Sara (Lori Cardille), cientista abnegada, única mulher do lugar (e do mundo, talvez) que tem que se desdobrar entre as pesquisas no laboratório junto com seus companheiros, cuidar de Miguel (Anthony Dileo Jr), seu interesse amoroso em óbvio declínio mental e não sofrer violências por parte dos militares, um patético grupo sem freios, principalmente depois da morte de seu comandante, que é substituído por Rhodes (Joe Pilato), um homem cuja pequenez é proporcional à sua arrogância e a de seus comandados, uma gente pobre de espírito que não deveria ser muito diferente antes do fim do mundo. E é nesta situação desfavorável que o Dr. Matthew (Richard Liberty), chefe dos cientistas também chamado de Frankenstein por seu trabalho pouco ortodoxo, revela que está conseguindo reverter o jogo quando um dos zumbis do laboratório começa a apresentar um comportamento civilizado e não violento, num processo que inclui respeito, atenção, música clássica e Stephen King e assim conhecemos Bub (Sherman Howard), o mais querido zumbi de Romero, um grandalhão de aprendizado rápido que nos cativa imenso a cada minuto em tela, mas, nem isso parece fazer com que todos ali cheguem a um entendimento e é nisso que reside a raiz dos problemas, tivessem aquelas pessoas sentado, passado um cafezinho, respirado e passado outro café, teriam percebido quão sem futuro era o futuro deles ali e isso não acontece, nem o entendimento, levando tudo para um final daquele jeito que a gente gosta enquanto vários deles vão pro vinagre de variadas maneiras.
Ganhamos nós, o público, com o fechamento digno de um capítulo que começara a ser escrito quase duas décadas antes e mudou para sempre a história e os rumos do cinema de horror, mergulhando-o em sangue, tripas e discussões sobre o comportamento humano. Atenção aos excelentes efeitos especiais mais uma vez a cargo de Tom Savini, que neste filme teve como assistentes Greg Nicotero e Howard Berger, responsáveis pelos efeitos da série The Walking Dead. Curiosamente, nem nos filmes de Romero e nem na série as criaturas são chamadas de “zumbis”. Que coisa, né?






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