#144 A Hora do Lobo (1968)

 


A Hora do Lobo é a hora entre a noite e o amanhecer. É a hora em que a maioria das pessoas morre. É a hora em que os insones são assombrados pelo seus medos mais profundos, quando fantasmas e demônios são mais poderosos. 

Eu escrevo sobre cinema na internet desde os tempos de fotolog. Tive um em que eu postava um por dia, por isso estava sempre pesquisando novos diretores. Na época eu dependia da TV aberta e das locadoras. Tinha sorte de ter TV a cabo em casa, o que me fez conhecer clássicos do Hitchcock e com o Vincent Price. 

Lembro de ler sobre Ingmar Bergman no Orkut de uma amiga. O filme em questão era Persona e aquele nome não saiu da minha cabeça. Pesquisei bastante e com uma grana que ganhei de Natal, comprei o DVD. Posso dizer que foi a partir dali que a minha relação com o cinema mudou. Claro que segui vendo minhas coisas comerciais de sempre, mas um novo mundo se abriu para mim. 



Desde então sou obcecada pelo diretor e pelo trabalho dele. Acho a figura dele um tanto quanto chata, pedante, mas ele fez alguns dos meus filmes preferidos da vida, trabalhou com atores que amo e escreveu livros incríveis. Em 2008 tive a oportunidade de conhecer a Liv Ullmann e ela autografou o meu Persona

E por que estou contando tudo isso? Porque o Bergman fez um único filme de terror em sua carreira, A Hora do Lobo, e eu precisava falar dele aqui. Um artista chamado Johan (interpretado por Max von Sydow, que começou sua carreira no cinema sueco e estourou após fazer o papel do Padre Merrin em O Exorcista) vai com sua esposa grávida, Alma (Liv Ullmann, que realmente estava grávida de Linn, sua filha com Bergman), para uma ilha quase deserta para trabalhar e descansar um pouco. 

Johan fica cada vez mais esquisito durante a viagem, sempre à beira de um colapso. A linha entre a realidade e os sonhos parece borrada. Alma se depara com uma idosa na ilha, que a manda ler o diário do marido. Ela o faz e descobre alguns segredos do mesmo. Johan tem insônia, faz com que Alma fique acordada com ele e aos poucos revela alguns acontecimentos. 


Há um grupo morando na ilha. Um casal, uma idosa, um professor, todos bem estranhos, mas simpáticos. Convidam o jovem casal para jantar na mansão. Quem são essas pessoas? Produto da imaginação de Johan? Alma está vivendo tudo aquilo? No começo do filme ela olha diretamente para a câmera e diz que vai contar o que sabe, baseada no que viveu e no que leu no diário do marido. 

Da mesma maneira de quando escrevi sobre Suspiria do Dario Argento, me repito: esse filme parece um misto de pesadelo com a expressão dos desejos mais secretos e estranhos de uma pessoa. O que o torna um filme de terror é justamente o clima de tensão. Já começamos sabendo que algo deu errado, que Alma está sozinha na ilha. O que aconteceu até aquele momento? 

Quase 20 anos depois e eu estou aqui revendo os filmes do Bergman e cada vez mais fascinada. A primeira impressão que tive com esse e com outros filmes dele foi a de espanto e deslumbre. Não digo que agora entendo cada entrelinha, mas o cinema de Bergman parece que sempre vai ter muito a me mostrar. 






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