#145 Jogos Mortais (2004)

Jogos Mortais

2004, EUA, colorido, 103 minutos

Saw

Direção: James Wan

Roteiro: Leigh Whannell

Elenco: Cary Elwes, Leigh Whannell, Michael Emerson, Danny Glover, Ken Leung, Monica Potter, Tobin Bell, entre outros e outras

Esse filme tem uma história e não é apenas a que ele conta, ele tem uma história pessoal com esse que vos escreve, um momento inesquecível e traumatizante. Era noite de domingo e entediado, decidi ir ao cinema. Lá chegando, ainda sem saber o que assistir, fui olhar os cartazes para ver se algum deles me chamava a atenção e de repente me deparo com um pé cortado fora na altura da canela com uma serra ao lado. “É ESSE”, sentenciei. Paguei o ingresso e me dirigi à sala, as luzes já estavam apagadas e os trailers, sendo exibidos. Apesar da baixa iluminação, percebi que além de mim só haviam mais três pessoas ali, eles no fundão, juntos e eu bem mais à frente, a poucas fileiras da tela. 

Findam-se os trailers, inicia-se o filme. Um rosto submerso abre os olhos em agonia para pouco depois buscar o precioso oxigênio que lhe falta. Um homem (Leigh Whannell, também roteirista do filme) está numa banheira, acorrentado pela perna em um lugar onde abunda a escuridão. Desesperado, grita por ajuda e descobre que não está sozinho no lugar, um ambiente imundo e nada convidativo, sem janelas ou aparentes ligações externas. Do outro lado da sala, também acorrentado, um médico (Cary Elwes) que também não sabe onde está ou porque está ali e para completar este tétrico cenário, entre eles, um cadáver com a cabeça explodida segura um revólver e um gravador. Pouco depois, acham em seus respectivos bolsos envelopes com as primeiras pistas do que está acontecendo, um jogo de gato e rato doentio pensado por uma mente pior ainda, onde a falha deles em agir de acordo com as regras estipuladas lhes trarão consequências brutais, ao mesmo tempo, do lado de fora, uma investigação policial ocorre em modo paralelo, pois seja lá quem esteja por trás daquilo já o fez outras vezes, criando armadilhas onde as vítimas não raro pagaram com as próprias vidas por não resolverem o desafio proposto em tempo hábil.

Conhecemos esses detalhes aterrorizantes através do próprio médico, pois tempos antes fora levado a dar depoimento na delegacia, suspeito de ser o responsável pelos crimes, o que faz com o que cresça a desconfiança do seu companheiro de infortúnio e a nossa. O que raios acontece ali? Porque tão inclemente? E assim nos são apresentadas uma sequência de desesperos onde cada segundo conta, num tabuleiro onde as peças são disponibilizadas pouco a pouco e as jogadas têm que ser rápidas, pois as consequências afetam inocentes para além daquelas paredes, eu incluído, amigos e amigas, eu incluído, pois raros eram os momentos em que eu não me contorcia em agonias enquanto via o que era projetado na sala de cinema. Eu me abraçava, me esticava, virava a cara, fechava os olhos, gritava “Não!”, enfim, eu estava sendo eu na minha maneira mais pura: um frouxo que sabe se lá porque, é feliz vendo filmes de terror. Na época em que Jogos Mortais foi lançado, o nome James Wan não causava o frisson que causa hoje em dia, os orçamentos com os quais trabalhava em nada lembravam os valores de hoje, inclusive, a grana curta fez com que ele e Whannell pensassem tudo de maneira bastante econômica, com resultados visivelmente eficientes. Jogos Mortais arrecadou cem milhões de dólares nas bilheterias, o que não é surpreendente, afinal, para o bem e para o mal a história mantém a atenção com situações escabrosas do início ao fim, uma reviravolta surpreendente e ainda nos faz ficar meditando sobre a motivação do algoz, criando em nós ligeiro dilema. Se você ainda não viu, está perdendo uma gema divertida, que, ainda que não tenha lapidação perfeita, é preciosa dentro do gênero. 

E então, as luzes do cinema se acenderam e ouvi um uníssono “MAS QUEOPS, RAPAZ, ERA TU???!!!”. Lembra das outras três pessoas presentes no lugar? Eram Chucky, Roberta e Seu Gluglu, dois amigos e uma amiga da faculdade que me disseram que depois de um tempo de projeção, desistiram de prestar atenção no filme pra ficar olhando “o cara que tava passando mal a sessão inteira”. E digo mais, rever este filme quase vinte anos depois para escrever sobre ele me causou as mesmas desgraçadas sensações. Ponto para Wan e Whannell.




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