Celia, filme da australiana Ann Turner, está em todas as listas de melhores filmes de terror dirigidos por mulheres. Então aproveitei para assistí-lo agora que estamos fazendo o especial no blog. Filmes com crianças sempre me dão um arrepio na espinha, ainda mais lembrando de The Bad Seed (1956) e Aldeia dos Amaldiçoados (1960).
Com este longa de 1989 foi um pouco diferente. Tem muita coisa acontecendo, são muitas camadas e acho que se eu fosse escrever sobre cada uma delas, faria um especial de dias. Celia é um filme de terror, mas acima de tudo é um filme triste. A criança de nove anos está passando por um período de luto, após o falecimento de sua avó, pessoa a quem era muito apegada.
O pai é um cara bruto, assediador, aquele clássico homem fraco que precisa ofender os outros para se sentir bem. Sua mãe é uma mulher submissa, que vive presa naquela vida e tenta colocar panos quentes na situação. Para lidar com tudo isso, Celia se afunda em contos de fadas macabros, como a história dos Hobyahs, seres azuis que sequestram pessoas. Uma infância não muito fácil.
Além de tudo, ela sofre bullying na escola, principalmente por parte de sua prima, que é filha do policial local. A sua sorte muda um pouco quando um casal com três filhos se muda para a casa ao lado. As crianças todas brincam juntas, e a mãe deles é muito carinhosa com Celia. Ela a acolhe e a jovem vê ali um lugar de calma.
Porém, o pai de Celia começa a assediar a mulher, colocando-a em situações constrangedoras. E para piorar tudo, ela e o marido são filiados ao partido comunista (assim como a avó de Celia era), notícia que cai como uma bomba para o homem detentor dos bons costumes. Ele proibe que a filha brinque com eles, e ainda dá um jeito de fazer o marido ser demitido de seu emprego.
Tudo que Celia queria era um coelho de estimação, fato que o pai usa contra a criança. Ele diz que só permite que ela leve um coelho para casa se ela deixar de ver os vizinhos. Ela não cede, mas ele acaba dando o bichinho para ela. O filme se passa no final dos anos 50 e no momento há uma caça do Governo aos coelhos, acusados de trasmitirem doenças e destruírem plantações. Isso foi inspirado por fatos reais.
Então vocês imaginam a tensão que é esse filme: o tempo todo ficamos apreensivos que vá acontecer algo ao coelho, que vai haver alguma violência contra a mãe ou a vizinha, que as brincadeiras das crianças serão trágicas. Eu me senti sufocada enquanto assistia e quando os créditos finais começaram a passar eu estava chorando de soluçar.
O terror é muito isso, pega traumas e transforma em coisas assustadoras. Shirley Jackson e Stephen King trabalharam muito bem essa questão da infelicidade representada por horrores. Celia é justamente isso, é um amadurecimento precoce da infância, num ambiente hostil, com carinhos negados e consequências absurdas.
Uma pena a diretora não ter tantos filmes em seu currículo, porque imagino que ela nos presentearia com mais enredos instigantes como esse.




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