A gravidez é aquele momento sagrado e feliz para muitas mães, mas também pode ser cercado de momentos de horror e de experiências não tão agradáveis. O senso comum impõe a nós mulheres que amemos nossos corpos e tudo que provém dele incondicionalmente, no entanto, quando isso não acontece como o esperado, acabamos por nos tornar mulheres monstruosas, insensíveis e inadequadas.
Prevenge, carrega muito disso, só que aqui, não temos uma mãe monstruosa para seu filho (ok, não tanto), aqui, Ruth (Alice Lowe), uma gestante que além de lidar com toda a sensibilidade da maternidade, está lidando também com o luto da morte do marido. O filme abre com ela conversando com o vendedor de uma loja de animais peçonhentos procurando algo diferente para seu filho. Entre conversas e frases dúbias como “quer conhecer minha cobra grande e gorda?”, Ruth tira uma faca e corta o pescoço do homem. Ela sai correndo do local e já no quarto de seu hotel, aos prantos, ouve a voz do feto que carrega pedindo para ela continuar matando. A trama se desenrola e ficamos sabendo que o bebe que Ruth carrega, está numa sanha vingativa e assassina por aqueles que supostamente mataram seu pai. É nesse momento que ficamos sabendo que Ruth tem uma lista de nomes e que sua mente já está sendo totalmente controlada por seu bebê. Ou embarcamos de vez nesse imaginário assassino vingativo de Ruth, ou então a experiência com o filme não será tão boa assim.
Entre o humor ácido muito bem guiado por Alice Lowe, e o total horror de uma grávida assassina, vemos Ruth seguir com sua rotina de exames e consultas com uma parteira, inclusive lhe aconselhando a ouvir mais seu bebe, enquanto segue sua matança pela cidade. Uma inocente noitada que sai para dançar e paquerar, logo se transforma em agonia sanguinolenta. As vítimas, quase sempre demonstram comportamentos que geralmente costumam ser inaceitáveis ou inesperados que se tenha com uma mulher e com uma mulher grávida, mas tudo tem um motivo de acontecer.
O barato desse filme, além da história inusitada, é saber que Alice Lowe fez praticamente tudo aqui. Roteiro, direção, atuação, grávida de 7 meses e ainda conseguiu filmar tudo em 11 dias. Para os ligados em terror, deve lembrar dela em Kill List (2011), mas foi na comédia que ela mais atuou, principalmente na TV com participações em séries como The It Crowd, Inside No. 9 e Sherlock. Prevenge é sua estreia como diretora já sendo aclamada com criticas positivas à sua produção.
Além da atuação destaque de Alice Lowe, o filme conta com um elenco de apoio bem digno e que ajuda muito a sustentar a trama e criar uma rápida empatia por eles já que...morrerão. Raramente os que cruzam o caminho de Ruth saem vivos e ela segue firme forte com sua vingança solitária, aliás, quase solitária, já que é só ela, o bebe e suas lembranças cortadas do que aconteceu naquele penhasco para que seu marido morresse de uma forma trágica. É lá que o filme começa e é lá que o filme termina. Ruth brinca várias vezes sobre não estar mais no controle de sua vida, de uma forma irônica, ela critica como as crianças hoje em dia estão mimadas e exigentes e que as mães acabam fazendo tudo por seus filhos. Eles pedem desde videogames a assassinatos, e ainda exigem que seja da forma mais rápida e cruel. Ela pensa que sua bebê tem alguma deformidade mental ou psicopatia, porém, é visível sua surpresa e decepção quando a bebê nasce: “Ela é normal”, a mãe fala caindo numa espécie de depressão e tendo que ser ajudada por sua parteira e assistente.
No fim, a experiência, ao menos para mim, foi ótima e não tem como sair sem pensar em várias mensagens sobre o dilema de ser uma mãe ou o que a sociedade espera do que teria que ser uma mãe.
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