Ann Hui é uma querida do cinema de Hong Kong que acumula uma longa carreira como diretora. Assumo que conheço muito menos do que gostaria de seus filmes, mas isso não significa que é tarde para fazê-lo. Em sua estrada, ela dirigiu dois filmes de horror sendo o primeiro "The Spooky Bunch", de 1980, que não possui nenhuma versão remasterizada e na internet só se acha numa versão sofrível que mal dá para se ler as legendas em inglês.
Seu outro filme de horror, "Visible Secret", de 2001, felizmente foi remasterizado e podemos ver como ela lida com esse gênero junto do romance e drama que são mais frequentes em sua carreira. Aqui temos June, interpretada pela sempre marcante Shu Qi, que na infância viu um homem ser decapitado na sua frente em um acidente de carro. O homem é ninguém menos que o também incrível Anthony Wong, fazendo uma pontinha. Com essa morte, ela acaba desenvolvendo sexto sentido e passa a ver fantasmas, o que a perturba muito.
Peter é seu par romântico. A conhece por acaso numa noite e vai aos poucos descobrindo a capacidade espiritual dela e, com isso, também passa a ver não só espíritos, mas também presencia diversos momentos de possessão demoníaca, possessões essas que eles acabam por enfrentar (ou fugir delas). Há vários momentos divertidos quando essas possessões surgem, minha preferida sendo de um monge pilantra que, na verdade, nem sabe se acredita nas próprias crenças. Ele mesmo assume ter "virado" monge exorcista pra ganhar dinheiro.
O brilho do filme se encontra nessa dinâmica entre os dois onde em alguns momentos June aparenta não querer a proximidade de Peter, mesmo que ele esteja disposto a encarar toda essa loucura junto dela, e o retorno da duplinha com o romance e suas peripécias espirituais. Mas existe também algo que June esconde. No final, o "segredo visível" denunciado no título do filme é o que pega a gente no pulo e dá até uma tristeza por termos assistido tudo e chegamos a esse desenrolar triste.
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