#179 Mormaço (2018)

E estamos chegando ao fim de mais um especial no 365! Esse aqui é meu último recomendado desse mês em que só escrevemos sobre diretoras. Mas não fiquem tristes, que mês que vem teremos mais um especial. Aguardem.

Dito isso, vamos lá.

Eu nem sei quantas vezes eu já recomendei Mormaço ao longo dos anos. Mas estou aqui, novamente, para falar desse filme da Marina Meliande que eu gosto tanto.

Em Mormaço, acompanhamos Ana (Marina Provenzzano), uma jovem advogada que trabalha em uma comunidade no Rio de Janeiro que tem sofrido com a especulação imobiliária. Os acontecimentos do filme se passam nas vésperas das Olimpíadas de 2016, e as coisas na comunidade estão cada vez piores. Não sei se vocês se lembram, mas a situação no Rio nessa época estava desastrosa por conta das Olimpíadas. Enfim, tudo muito pautado no real.

Daí que Ana começa a ficar muito doente, mas ela não consegue descobrir o porquê. Algumas manchas, parecidas com fungos, tomam sua pele, ao mesmo tempo que diversas coisas estranhas começam a acontecer ao redor dela. 

O filme vai escalonando a partir disso daí: um crescente terror mudo toma conta dos dias de Ana. Ela precisa lidar com essas manchas, que não sabe de onde vêm, e precisa fazer o possível para ajudar a comunidade que está prestes a ser despejada de seus lares.

Eu acho esse filme uma beleza. Tem uma coisa que eu sempre comento muito, principalmente quando falava de filmes com a Michelle no The Witching Hour, que é do clima. Mas quando eu digo clima não é só a atmosfera etc etc, eu quero dizer da sensação térmica que os personagens passam, e como isso se relaciona com as narrativas deles. Eu sempre achei isso impressionante.

É uma coisa que me chamou atenção profundamente em Objetos Cortantes, e que eu sempre associo ao southern gothic: calor, suor, mosquitos, e, em casos de obras mais recentes, o barulho do ventilador, a brisa morna e sufocante que ele emana, quando a gente na verdade vai atrás dele por algum conforto, e só recebemos mais agonia. 

E isso é uma das minhas coisas favoritas em Mormaço, que é um filme essencialmente de body horror e que tem essa característica extremamente fascinante: a temperatura é muito visível, o desconforto crescente de Ana conversa diretamente com esse aumento de temperatura que ela sente, tanto em relação à cidade, quanto em relação ao próprio corpo. É nessa umidade que suas manchas, seus fungos, crescem.

Marina Meliande e a atriz Marina Provenzzano 

Eu infelizmente não tive oportunidade de ver outras obras dirigidas pela Meliande, mas eu adoro esse aqui e recomendo sempre que posso. A Michelle e eu falamos dele no finado Witching Hour também inclusive foi nosso primeiro episódio!, que vou deixar linkado aqui se vocês quiserem ouvir.


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