#192 Foi Deus Quem Mandou (1976)


Foi Deus Quem Mandou 

1976, EUA colorido, 89 minutos

God Told Me To

Direção e roteiro: Larry Cohen

Elenco: Tony Lobianco, Sandy Dennis, Deborah Raffin, Sylvia Sidney, Sammy Williams, Richard Lynch, entre outros e outras.

"A vida não importa. Nada nela é verdade"

Nova York. De cima de uma caixa d'água, uma atirador alveja mais de dez pessoas e ao ser confrontado por um policial (Tony Lobianco), afirma peremptoriamente que "Foi Deus quem mandou!" para se suicidar logo em seguida. O assassino não tinha histórico violento, não era um exímio atirador e nem o rifle estava em condições ideais para tal uso. Outros crimes acontecem na cidade e em comum entre todos eles, a declaração "Foi Deus quem mandou" dada por quem os cometeu. Para piorar, a vida de Peter está um tanto quanto enredada em problemas, pois mantém duas relações amorosas sinceras, porém, insustentáveis, ao mesmo tempo em que é corroído pelas dores da sua própria alma sem ninguém para ajudá-lo.

Dias depois ele recebe uma dica anônima detalhando lugar e número de vítimas do próximo ataque. Sem acreditar na sua teoria, seus colegas vão investigar e testemunham cinco pessoas sendo mortas por um policial no tradicional desfile do Dia de São Patrício. Adivinhem as últimas palavras do assassino. Convencido de que algo de errado estava muitíssimo errado, Peter começa a investigar e consegue um suspeito com duas características comuns e outra inexplicável:

a) ele é branco e tem cabelos loiros longos;

b) ninguém consegue lembrar do rosto dele.

E não é porque não o tenham observado, é que toda vez que o faziam, enxergavam-no borrado ou algo os fazia desviar os olhos. Sinistro. Após conseguir o nome do suspeito, as investigações mostram que o mesmo não tem registros escolares, nunca se alistou, trabalhou ou usou a previdência social, mas, ele existe e as evidências mostram que ninguém que passou por sua vida ficou impune e assim também será com Peter, que suspenso de suas funções, agora se utiliza de seu  tempo livre para ir cada vez mais fundo. A população se revolta contra a ineficiência da polícia e um indivíduo se aproveita do pânico generalizado para cometer um assassinato "a mando de Deus", confundindo mais ainda a polícia, enquanto as investigações de Peter o levam a um ponto sem retorno cheio de descobertas indesejadas.

Acerta muito Larry Cohen em sua proposta, várias cenas são filmadas nas ruas e calçadas nova iorquinas, dando à obra uma cara quase documental em alguns momentos. É engraçado ver figurantes e transeuntes olhando para a câmera, em verdadeiros momentos de 'QUÊ?" o que para mim em nada diminuem o trabalho, na verdade, acrescenta um ar de realidade que contrasta com a ideia bem fora da curva desenvolvida no roteiro. Os créditos de abertura se mostram geniais e a escalação do elenco se revela acertada, com LoBianco liderando o caminho que o levará ao cerne de suas próprias dores enquanto perde tudo o que ama pelo caminho, ao mesmo tempo em que descobre quem ele é.

Cohen tem currículo extenso no cinema de horror, atuando, produzindo, dirigindo e escrevendo filmes como  Maniac Cop (1988), Nasce um Monstro (1974), Retorno a Salem's Lot (1987), Inocência Fatal (1984), The Stuff (1988), são tantos que Cohen se tornou um daqueles realizadores dos quais já vimos alguns filmes e às vezes nem sabemos. De produção controversa (várias pessoas saíram do projeto ao perceber seu real teor ou após assistir ao primeiro corte) e inicialmente recebido com ressalvas pela critica e pelo público, o tempo acabou reconhecendo em Foi Deus Quem Mandou, como um dos melhores e mais ousados filmes de terror e sci-fi já feitos, com uma história que se recusa a abandonar a nossa lembrança depois de vista num filme que depois de assistido, sempre chegará mansinho pedindo revisão.





Comentários