1997, EUA, colorido, 109 minutos
Alien: Resurrection
Direção: Jean-Pierre Jeunet
Roteiro: Joss Whedon
Elenco: Sigourney Weaver, Winona Ryder, Brad Dourif, Ron Pearlman, Gary Dourdan, Dan Hedaya, J.E. Freeman, Michael Wincott, Raymond Cruz, entre outros e outras
- (Ripley) Soube que você já topou com essas coisas antes.
- Isso mesmo.
- E você fez o quê?
- Morri.
Sim, queridas leitoras e leitores, a Ellen Ripley que conhecemos em Alien - O Oitavo Passageiro (1977, de Ridley Scott), morreu no final de Alien 3 (1993, de David Fincher), após viver uma vida onde passou de uma simples mãe solo batalhando o de comer nos cafundós da galáxia, para alguém que durante três filmes enfrenta uma criatura com ácido no lugar do sangue para no fim, cansada de ter que ajudar e aturar gente que nunca viu na vida, sacrificar-se e impedir que os alienígenas elevem seus estragos à milionésima potência.
A Ressurreição no título deste filme não se resume apenas à da personagem, mas, à própria franquia, que junto com Ripley, foi repaginada e evoluída. Se vestindo uma mera carcaça humana a personagem se livrou dos aliens às centenas (como visto em Aliens - O Resgate, de 1986), Ripley, agora um híbrido humano xenomorfo e com um "8" acrescentado ao nome, tem que reaprender tudo do zero, ao mesmo tempo em que se redescobre. Ela está mais rápida, mais forte, seus sentidos estão mais aguçados e seu sangue é a prova cabal de que ela se tornou algo mais, além de estar também um tanto mais cínica e realista. Mesmo com todo esse histórico, ela é descartável, uma rainha-mãe foi retirada do seu útero num processo de clonagem para que a mesma se desenvolva à parte e coloque ovos que fertilizarão pobre coitados contrabandeados para o laboratório espacial onde ela se encontra, porque os cientistas acreditam que sim, podem domar os xenomorfos, logo eles, filhos dedicados que só obedecem à própria mãe.
Se o final da pouco inspirada (para mim) iniciativa anterior intitulada Alien 3 vaticinou o fim da franquia e da nossa querida Ripley, este aqui deixa claro que a morte é apenas um detalhe, se quem morreu deixou amostras de seus genes e se esses mesmos genes estiverem embaralhados com os de uma natural máquina assassina, melhor ainda, a iniciativa privada e os militares agradecem. O problema (porque sempre existe um) é que os xenomorfos, após sofrerem torturas disfarçadas de treinamentos conduzidas por um cientista (Brad Dourif, dando outro significado à expressão "cientista louco"), fogem e organizados que são, decidem que o lugar agora é deles, restando aos tripulantes apenas o escape. A maioria consegue, outros não, entre eles, a nossa heroína, um grupo de mercenários, alguns cientistas e soldados. Óbvio que teremos aqui tudo o que faz longeva essa franquia, só que com cuidados, para que não se rompa o casco da nave e todos e todas morram, porém, o real diferencial deste filme entre todos os outros lançados na franquia é o tratamento dado a Ripley.
Se antes a preocupação da personagem resumia-se a pouco mais que a própria sobrevivência, o que é muito justo por sinal, n'A Ressurreição não é incomum a personagem se deparar com dúvidas e descobertas sobre seu novo eu e isso influencia completamente a sua maneira de enxergar o mundo e às pessoas, misturados que estão seus sentimentos, lembranças e genética, já que apesar da aparência humanoide, ela é agora um ser único com ligação direta com as criaturas que um dia caçou e destruiu, tornando-a um poço de sensações que acabam por lançar dúvidas nos corações de seus companheiros de infortúnio, que por vezes não conseguem confiar nela, o que é paradoxal, visto que os únicos seres que podem ser chamados de inocentes neste imbróglio são a própria Ripley, as cobaias humanas (coitadas) e uma nova e belíssima espécie de alienígena, fora isso, igual no filme anterior, Ripley está cercada de pecadores, gentes com agendas particulares despudoradas onde, em nome da ciência e do lucro, não veem problema em colocar ecossistemas inteiros em perigo, o próprio inclusive.
Injustamente odiado por muitos e muitas, Alien - A Ressurreição, ousou dar novos rumos a uma franquia que apresentava sinais de cansaço. Não foi o último filme com as criaturas, já que anos depois o próprio Ridley Scott, diretor de O Oitavo Passageiro, voltaria a trabalhar os xenomorfos e a própria humanidade em Prometheus ("Mas não cumprius!", como costuma dizer o escritor e jornalista Geraldo de Fraga), mas, se tivesse sido este o último filme da franquia, ele teria sim, fechado as histórias de Ellen Ripley com chave de ouro.
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