Going to Pieces: The Rise and The Fall of The Slasher Film
2006 - EUA colorido, 88 minutos
Direção: Jeff McQueen
Narração: Ed Green
Depoentes: John Carpenter, Wes Craven, Betsy Palmer, Tom Savini, Felissa Rose, Lilyan Chauvin, Stan Winston, entre outros e outras.
"Há muita escuridão nessa arte", Tom Savini
Temos aqui um divertido passeio pela ladeira da memória, mesmo para quem está vendo pela primeira vez. De maneira didática e começando nos anos 70, somos apresentados aos primórdios desse tipo de produção, que conheceu o seu auge e "decadência" nos mesmos anos 80 que os eternizaram. Discussões de produção, criação e distribuição (sempre ela!) permeiam o documentário, que também observa o impacto dos filmes na indústria e na sociedade. Sempre impressiona conhecer a quantidade de filmes excelentes deste subgênero, obras que, apesar das similaridades, têm identidade própria em sua maioria e entregam com moral o que se espera deles: dor, sangue, sofrimento e morte. E de novo. E outra vez. Furadeiras elétricas, facões, cordas, chifres, facas de cozinha, flechas, pedaços de pau, serras, agulhas, garfos, cordões de varal, forquilhas, pás... pouca coisa escapou de virar uma arma mortal nas mãos desses homens e mulheres, estejam eles em subúrbios majoritariamente habitados por pessoas brancas de classe média ou em inocentes e convidativos acampamentos de férias.
A aritmética da morte era praticamente a mesma em todos os filmes: quem bebia, trepava, usava drogas (tudo junto ou separado) encontrava uma morte horrível nas mãos do assassino da vez, que por outro lado, raramente tinha tido uma infância feliz, o que explicava as suas atitudes, mas, não as perdoava, claro. Faleceram mortes tétricas nomes importantes do cinema, muitos em início de carreira, como Jason Alexander (o George Constanza da série Seinfeld) e Holly Hunter (O Piano, de Jane Campion) em A Vingança de Cropsy (1981, de Tom Maylam), filme responsável por lançar a carreira do hoje infame Harvey Wenstein e já que estamos falando deles, os infames, Johnny Depp começou em A Hora do Pesadelo (1984, de Wes Craven, um dos depoentes do documentário), além de Kevin Bacon em Sexta-Feira 13 (1980, de Sean S. Cunnigham) e entre outros e outras estrelas.
Apesar de reconhecidos sucessos de bilheteria, não demorou para que os slashers começassem a ser questionados por pessoas de dentro e de fora da indústria, que começaram a atacar as obras e até mesmo a culpa-las por alguns problemas estruturais da sociedade, como misoginia e violência contra a mulher, que sim, são atitudes reprováveis, mas, que não se pode culpar esse tipo de filme por sua existência num gênero, que como observa o documentário, nem sempre os assassinos eram homens e muitos mais homens morriam em cena do que as mulheres. A coisa escalou de tal maneira que protestos contra Natal Sangrento (1984, de Charles E. Sellier), para citar um exemplo, aconteceram na frente de algumas salas de cinema porque, de acordo com quem protestava, o filme estava se apropriando da figura do bom velhinho, transformando-o num assassino cruel e isso confundiria a cabeça das crianças. Percebam o nível do vácuo existente no cérebro dessas pessoas. Apenas. Percebam.
Com a saturação do tema no final dos anos oitenta, os filmes de slasher passaram por uma desaceleração, até que em meados dos anos 90, Wes Craven, um veterano do cinema de horror, reviveu o gênero com Pânico, que desde então vem se renovando sem dar mostras de que um dia vai parar. Talvez, a exemplo do que aconteceu antes, as produções desse tipo diminuam de ritmo sim, mas, também a exemplo de tempos passados, emergirá novamente fortalecido, afinal, o slasher lida com o terror plausível e é óbvio que não me refiro às imortalidades de Jason Voorhees ou Michael Myers e sim, à má sorte de cruzar caminhos com alguém com pura intenção de matar, torturar e aterrorizar com qualquer objeto ou ferramenta que possa se tornar mortal.
Quem já assistiu sabe que este documentário é uma mina de dicas preciosas, além de contar com as inúmeras e esperadas cenas clássicas que fazem a nossa alegria. Quem ainda não viu e não tem problemas com (muitos) spoilers, se jogue, porém, se você ainda não assistiu, o meu sincero conselho é: se jogue nesse subgênero através de saudáveis maratonas sozinhas ou acompanhadas e depois veja esses e outros documentários sobre o tema, acredite, eles nunca nos cansam, na verdade até revigoram.
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