Uma Noite de Crime: Anarquia
The Purge: Anarchy
2014, EUA colorido, 103 minutos
Direção e roteiro: James DeMonaco
Elenco: Frank Grillo, Carmen Ejogo, Zoe Soul, Michael Kenneth Williams, Justina Machado, John Beasley, Jack Conley, LaKeith Stanfield, entre outros e outras.
É impressionante como a arte é testemunha nada passiva dos dias em que vive, seja de maneira consciente ou não, ela reflete a sociedade e seus tempos. Esta sequência aqui, por exemplo, tem quase dez anos de lançada e a leitura que vem dela se mostra cada vez mais atual.
No primeiro filme, lançado em 2013, uma família de classe média alta se vê diretamente ameaçada por um decreto presidencial de um governo totalitário, o Expurgo, um licença oficial onde, durante doze horas, pode-se e deve-se matar quem coloca a sociedade em perigo e mesmo com setores da sociedade civil indo contra essa iniciativa, ela apenas não foi pra frente como se revelou um sucesso, com adesão de boa parte das pessoas do país, que aproveitaram o passe livre para externar suas verdadeiras faces reacionárias.
Pois bem, essa sequência mostra que, anos depois de aprovada, o Expurgo, uma das ideias mais fascistas da América, não apenas continua, como vai de vento em popa. A taxa de desemprego do país é quase zero, a violência, tirando a da famigerada noite, quase inexiste e o índice de pobreza caiu bastante, óbvio, já que iniciativas desse tipo atingem principalmente as faixas menos favorecidas de qualquer população, neste caso em específico, os pobres, que são tidos pela camada mais rica da sociedade como principal causa dos problemas nativos. A ficção, infelizmente, passa longe desse detalhe mórbido e também passa longe de certos grupos, em especial um, liderado por Carmelo Johns (o saudoso Michael Kenneth Williams) se insurge contra essa medida, chamando a sociedade à rebelião, abrindo-lhe os olhos para o verdadeiro significado social e financeiro do tal Expurgo, que nada mais é do que a manutenção do status quo pura e simplesmente, dando a impressão de que certos problemas serão resolvidos.
Em Uma Noite de Crime: Anarquia, acompanhamos de perto os passos de Eva (Carmen Ejogo), uma mãe solo que vive com a sua filha Cali (Zoe Soul, uma das personagens mais chatas já criadas) e Papa Rico (John Beasley), seu pai, um homem de idade avançada, que sofre de doença terminal e é tanto contra as ideias revolucionárias de Johns, quanto o sofrimento financeiro que a própria condição reserva à família. No meio de tudo isso, Eva quer apenas sobreviver ao dia a dia num emprego mal remunerado e pagar as contas que não param de se acumular, enquanto tenta não enlouquecer entre as distintas visões de mundo que existem em sua casa e no trabalho, na figura de sua patroa incompreensiva cujo rosto nunca aparece. Ao mesmo tempo, Shane (Zach Gilford) e Liz (Kiele Sanchez), um casal em crise por suas decisões e principalmente, pela falta delas, tenta chegar ao seu destino antes que a matança comece, mas, um problema em seu automóvel faz com que mudem seus planos, que consistem a partir de então de apenas uma coisa: sobreviver. Junte a todos e todas essas pessoas a um homem (Frank Grillo) que pretendia se aproveitar da data para colocar em praticar uma vingança, quando então o acaso os transforma num grupo a princípio desconfiado uns com os outros, mas, que logo percebem que, para sobreviver, terão que fazê-lo unidos.
A grande coisa deste filme não é apenas o que vemos, mas, também as entrelinhas, deixando impossível não fazermos comparações sociais e comportamentais dos dias de hoje e de antanho, quando os dedos que apontam os culpados são os mesmos que originam os problemas e dificultam suas soluções, pois sobrevivem do caos, da desinformação e da desgraça alheia, dessa maneira colaborando para a continuidade dos mesmos, mas, Anarquia vai além, quando mostra personagens que têm suas vidas diretamente afetadas pela situação imposta sobre eles agindo de maneira a perpetuar aqueles problemas apenas porque eles e elas têm a impressão de que estão se aproveitando da situação, quando na verdade, estão ajudando a serem eles e elas mesmos e mesmas varridas para debaixo do tapete.
Não, Noite de Crime: Anarquia, não é um filme denúncia, Na verdade, é mais um produto que percebe o seu redor e transforma isso em lucro em forma de exitosa franquia com direito até mesmo a uma série de tv que teve duas temporadas, mas, que dá pra fazer as supracitadas comparações e no fim das contas se juntar ao grupo rebelde de Carmelo Johns, ah, isso dá.





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