#304 Van Helsing - O Caçador de Monstros (2004)


Van Helsing - O Caçador de Monstros

EUA – 2004 colorido, 131 minutos

Direção e roteiro: Stephen Sommers

Elenco: Hugh Jackman, Kate Beckinsale, David Wenham, Richard Roxburgh, Elena AnayaSilvia Colloca, Josie Maran, Shuler Hensley, Kevin J. O’Connor, Alun Armstrong, Robbie Coltrane, entre outros e outras

"Não! Eu não tenho coração! Não sinto amor, medo, alegria ou tristeza. Sou vazio... e viverei para sempre", Drácula

“It’s alive! It’s alive!!!”, são as primeiras palavras ditas neste filme, uma frase hoje clássica do cinema de horror, dita com fervor pelo ator Colin Clive em Frankenstein (1931), repetida aqui também com paixão por Samuel West, ao ver que o grande experimento de sua vida tinha dado certo, tudo isso em meio a uma sequência filmada em preto e branco que homenageia a sequência final do filme de James Whale, onde uma multidão enfurecida, munida de tochas, forquilhas e ódio, se dirige ao seu castelo, na esperança de impedir o que acreditam ser um sacrilégio. O ano é 1887, o local, a Transilvânia e esta é apenas uma das muitas licenças poéticas que o diretor e roteirista Stephen Sommers toma nas pouco mais de duas horas de duração de Van Helsing – O Caçador de Monstros, uma versão moderna do personagem do livro Drácula, de Bram Stoker, como explicado no texto imediatamente anterior a este, neste mais que distinto blog. 

A alegria do Dr. Victor Frankenstein é interrompida pela chegada de Drácula, que tem seus próprios planos para o monstro criado pelo cientista, cujo visual, apesar da reverência aos filmes clássicos de monstros da Universal, é mais fiel ao descrito pela escritora Mary Shelley no livro de 1818 e em nada lembra a criatura popularizada pelo lendário Boris Karloff. Ao tentar impedir o conde, o cientista descobre da pior maneira que o mesmo é imortal e ele, infelizmente, não. Aproveitando-se da confusão, o monstro foge em direção a um moinho, carregando em seus braços o cadáver do doutor, numa outra referência mais que direta ao filme original, onde criador e criatura sucumbem ante o fogo e o desabamento da estrutura, enquanto a multidão, antes enfurecida, foge em desabalada carreira ante a visão de Drácula e suas noivas voando em direção a eles, chegando a tempo de apenas testemunhar a morte de seus perseguidos.

Um ano depois, em Paris, cartazes de “procurado” exibindo a face mascarada(!!!) de Van Helsing (Hugh Jackman), agora o homem mais procurado da Europa, enfeitam as paredes da cidade. Cristão devoto criado desde criança por uma ordem sagrada, cuja missão é acabar com aqueles a quem consideram monstros, ele está na cidade para finalizar negócios inacabados com Mr. Hyde (mostrados na prequel animada lançada também em 2004), que fugira de Londres após matar várias pessoas para viver uma relação pra lá de tóxica com a Rainha Vitória. Apesar do filme trabalhar monstros e criaturas que desde os livros que lhes deram origem e os filmes produzidos entre as décadas de 1930 e 1950 que cativam os fãs do gênero até os dias de hoje, o diretor e roteirista Sommers repaginou os personagens, dando-lhes roupagem que considerava ser moderna naquele início de milênio, Van Helsing, que já tinha sido vivido por atores como Peter Cushing, Anthony Hopkins, entre outros, dessa vez é vivido pelo australiano Hugh Jackman, que à época já tinha vivido o super-herói Wolverine por duas vezes (em 2000 e 2003, respectivamente), trazendo para o século 19 o estilo de filmes de ação que muito lembra os Batman de Tim Burton com armas e equipamentos que bem poderiam ter sido criados pelo agente Q, o armeiro de 007, franquia de filmes de ação e espionagem também oriunda da literatura. 

Apesar de não querer ceifar a vida de Mr. Hyde (na verdade, queria leva-lo ao Vaticano para que lá ele fosse separado de sua parte boa, o problema é que a prequel mostra que esse lado do personagem simplesmente não existe, deixando-nos com uma tremenda interrogação na cabeça, mas, essa não é a primeira e nem será a última). Hyde resiste ao caçador e acaba por encontrar o próprio fim. De volta ao Vaticano, na sede da Ordem, Van Helsing é colocado a par de sua nova missão, na Transilvânia, onde ele tem que proteger os irmãos Anna (Kate Beckinsale, que se esmera na canastrice embalada num figurino com pinta de sobras de Piratas do Caribe, qualquer um deles) e Velkan (Will Kemp, que aparentemente, acha que ser bonito é suficiente pra render em tela), membros de uma família parceira da Ordem há séculos que está sendo exterminada por Drácula e, se eles perecerem antes do vampiro, eles e seus familiares que viveram antes deles, terão negadas suas entradas no Paraíso e passarão a eternidade no Purgatório, uma espécie de ante sala do inferno existente na fé católica. Sua única pista de como derrotar o maior dos vampiros é um pedaço de pergaminho antigo com um símbolo idêntico ao anel que lhe orna o dedo, um dos muitos mistérios não desenvolvidos no decorrer da história. 

Equipado com armas de inspiração steampunk criadas pelo Frei Carl (David Wenham), seu amigo de fé e irmão camarada e companheiro de suas aventuras e desventuras, Van Helsing parte em direção ao Leste Europeu, onde, antes de sua chegada, seus aliados enfrentam um perigo na forma de um lobisomem gigantesco e de hábitos um tanto quanto antissociais, que desfalca a já minúscula família. A partir daí e desde antes, sejamos sinceros e sinceras, o filme tem foco em tiro, porrada e bomba, amparado por diálogos sofríveis, atuações pouco inspiradas do casal principal (Jackman e Beckinsale, um dos mais improváveis pares românticos do cinema de horror) e sequências de ação de exagerada criatividade e impossibilidades mesmo dentro do que se propõe que nos fazem repetir “QUE MENTIRA DO C4R4LH0!” ad infinitum e que ainda assim, não pode ser considerado um filme ruim. É longo demais, o fiapo de história que se entende por roteiro em vários momentos ameaça se esgarçar, mas, assistir aos atores e atrizes não principais do filme, em especial Richard Coxburgh, que claramente adorou interpretar o Conde Drácula, Shuler Hensley, como o Monstro de Frankenstein, que quer apenas viver em paz e se revela mais humano do que a maioria das pessoas que aparecem no filme, Kevin J. O’Connor, como Igor, o assistente de Victor Frankenstein, um psicopata que se utiliza de seus traumas como desculpas para machucar pessoas, Tom Fisher, um coveiro que enxerga oportunidades de negócios nos caos que o rodeia Elena Anaya, Silvia Colloca e Josie Maran, caprichando na canastrice erotizada como as noivas de  Drácula são a cereja desse bolo de ingredientes tão distintos que, de alguma maneira, acabam por combinar, tudo isso entre cenários que remetem à estética de Terry Gillian, Tim Burton além, óbvio, dos filmes clássicos da Universal, fora as referências A Dança dos Vampiros (1968), num baile de máscaras com inspirada decoração, figurinos e ações, ao desenho Papa Léguas, Aliens e Yakima Cannut, tudo isso inserido num plano mirabolante que faria inveja ao mais loucos dos cientistas loucos.

Van Helsing - O Caçador de Monstros, não deseja nada, quer apenas rosetar e o faz de maneira tão aloprada que ficamos boquiabertos durante a maior parte de sua projeção, tamanha a cara de pau com orçamento de 140 milhões de dólares que, se não fez tanto sucesso como A Múmia (1999) e O Retorno da Múmia (2001), filmes do mesmo diretor, teve bilheteria respeitável, mas, não o bastante para cumprir a promessa de que Van Helsing e o Frei Carl viveriam outras aventuras juntos. Coisas da vida, mas, eu gostaria de ver Van Helsing Encontra a Filha de Drácula, Van Helsing À Procura do Homem Invísivel, Van Helsing Contra O Fantasma da Ópera e outras possibilidades que esse universo poderia render. Não rolou e só resta nos contentar com esse aqui, para o bem e para o mal, que apesar de massacrado pela crítica quando lançado, foi transformado pelo tempo numa peça divertida nível WTF.

Oremos.






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