#315 As Torturas do Dr. Diabolo (1967)

Se nós brasileiros temos a tesoura do desejo, desejo mesmo de mudar, a Amicus tem a tesoura do destino. A tesoura que mostra o destino trágico de quatro seres ambiciosos e egoístas.

Torture Garden ou As Torturas do Dr. Diabolo, é um filme de 1967 dirigido por Freddie Francis e produzido pela Amicus, produtora inglesa de Max Rosenberg e Milton Subotsky. Os segmentos que compõem essa antologia foram todos adaptados de Robert Bloch, autor de "Psicose” (1959). Bloch era muito conhecido por sua semelhança com o estilo de H. P. Lovecraft, um dos primeiros a encorajar sua carreira de escritor, tanto que passou a incorporar muito do autor, da coisa do horror cósmico, em seus trabalhos. Depois ele foi achando seu próprio caminho em escritos sobre crime, terror, até se encontrar no terror psicológico. Os contos que foram adaptados aqui neste filme, tem muito desse horror secreto e crescente que existe em cada um de nós. 

Na trama, Burgess Meredith é nosso anfitrião como o Dr. Diabolo. Sim, você deve lembrar dele em vários papéis marcantes como o pinguim do Batman nos anos 1960, ou como o treinador de boxe de Rocky Balboa, ou como o velhinho líder da seita do prédio em Sentinela dos Malditos (1977). É ele quem recepciona as quatro pessoas que passeiam pelo evento, uma espécie de casa do terror mal assombrada. Em determinado momento, o showman convida os visitantes para adentrar numa experiência única a qual ele chama de “genuinamente assustadora”. Claro que se cobra a mais pela exclusividade e claro que a curiosidade intrínseca do ser humano é aceitar. No local, eles são recepcionados por uma estátua muito realista a qual o Diabolo chama de “a divindade feminina Átropos" (Clytie Jessop), cuja missão é através de uma tesoura e de alguns fios que segura, mostrar aos estranhos seus desejos mais profundos e sombrios. Um a um vai sendo desafiado pelo anfitrião a aceitar o convite e ficar cara a cara com a tesoura que lhes mostrará coisas apavorantes.

Na primeira história intitulada Enoch, temos Colin (Michael Bryant), um ser ganancioso que está de olho na fortuna do tio moribundo e vai até saber sobre a herança que pensa que herdará. De alguma forma, ele descobre um gato que se comunica com ele e manda Colin matar alguém, mas esse conto reserva algumas surpresas macabras que envolvem feitiço, bruxaria e um bichano de dieta peculiar.

O segmento seguinte, Terror Over Hollywood, traz a ironia de criticar certos comportamentos na terra dos grandes estúdios, onde pessoas se alimentam de aplausos, holofotes e adulações, são capazes de tudo para conseguirem o que querem e quando conseguem fazem mais um tanto de barbaridades que até Satanás duvidaria. Tem um pezinho na ficção científica e foi um dos segmentos de que mais gostei. Carla (Beverly Adams) é uma aspirante a estrela e para conseguir chegar no topo, puxa o tapete de sua amiga e companheira de apartamento. Só que ela acaba descobrindo um mundo do qual não estava preparada.

Mr. Steinway é o terceiro conto da antologia e o menos interessante, a meu ver. Brinca com a coisa de casa mal assombrada com um piano chamado Euterpe (deusa da poesia lírica) que aparentemente está possuído e com ciúmes da nova namorada (Barbara Ewing) de seu dono (John Standing). A peça que se mostrava mal assombrada e possuída, quer vingança diante da insistência e da não desistência da moça.

O quarto segmento é o melhor e mais interessante, para mim. The Man Who Collected Poe traz duas presenças pesos pesados do insólito contracenando juntos, Jack Palance e Peter Cushing. Eles dividem o mesmo amor e veneração pelo escritor, um diz que tem a maior coleção e o maior legado de Poe, o outro deseja ter. Eles então marcam de se encontrar e enquanto saboreiam boas bebidas e exploram toda a coleção que contém alguns segredos exclusivos, o grande segredo está perto de ser revelado, mas antes disso, um assassinato acontece até saber quem está por trás de tudo aquilo de verdade. Um conto muito interessante e que carrega muito a cara da produtora. Ótimo para fechar e dar segmento ao epílogo de toda a história. 

As antologias da Amicus me são imensamente caras e revisitar especificamente essa daqui, tem sido valioso e uma sensação de redescobertas. Sem contar na direção primorosa de Francis, aquele que dispensa apresentações e procura carregar em seus trabalhos imagens memoráveis como algumas presentes nos segmentos do piano, que mesmo sem muita graça, consegue bons momentos. Ou no segmento de Poe que demonstra a leveza e o brilhantismo na atuação dos dois, nota-se que além de trabalho, eles estavam se divertindo, assim como eu me diverti assistindo a todas as torturas sádicas do dr. Diabolo. 





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