Censor de 2021 é o primeiro longa da diretora Prano Bailey-Bond. Assisti na época que saiu e lembro de não ter gostado, de não ter me conectado com a história. Porém, desde então esse filme sempre aparece para mim de alguma forma. Dia desses vi uma foto da diretora com a escritora Mariana Enriquez (rainha argentina da ficção esquisita) e entendi como um sinal para revê-lo. Escolhi o feriado de 07 de setembro para isso.
O longa se passa nos anos 80 e foca em Enid, uma mulher estranha que trabalha como censora de filmes. Ela avalia cenas de estupros, de violência e o que mais se pode imaginar em filmes B. Imagino que ficar o dia inteiro vendo cenas perturbadoras, analisando cada uma delas para pedir cortes ou mudanças, deva ser um trabalho exaustivo.
Enid tem uma história passada bem estranha. Quando era criança, ela e sua irmã estavam numa espécie de bosque. A irmã sumiu e ela voltou sozinha para casa, sem conseguir explicar o que houve. Tantos anos depois, os pais dela resolvem encerrar as investigações e dar a filha mais nova como morta, atitude que Enid não aprova. Ela acha que a irmã ainda está viva e que pode encontrá-la.
Assistindo a um dos filmes em seu trabalho, ela vê uma cena que lembra exatamente a do desaparecimento de sua irmã e fica obcecada. Ela vai atrás de outros trabalhos do diretor e encontra um filme dele estrelado por Alice Lee, que Enid tem certeza de ser sua irmã.
Aí entra a brisa e espiral de loucura. Enid já não estava com a saúde mental muito em ordem, depois da decisão dos pais e de ver a tal cena, ela decide que precisa salvar a irmã. Ah, ela acredita que as violências daqueles filmes são reais e de que sua suposta irmã corre perigo.
Eu ando numa fase bastante obcecada com autoficção e metalinguagem, então esse filme caiu como uma luva. Enid está confundindo a própria vida com o cinema, não consegue mais distinguir o que é violência real da metafórica. Ela se defende quando precisa e acha que precisa defender a irmã. Os limites da realidade foram borrados.
Não acho que o filme seja aquela maravilha (quantos são, né?), mas vale a pena demais. O clima é muito interessante, o jogo de luzes lembra o que vemos em clássicos do giallo e o enredo é bem confuso num bom sentido. Achei a atuação da atriz principal um pouco exagerada e me incomodou bastante, mas talvez essa seja a intenção.
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