O primeiro filme de Stephanie Rothman que assisti foi o The Velvet Vampire (1971), que é inclusive, considerado um de seus trabalhos mais conhecidos. Rothman é uma diretora de cinema norte-americana bastante atuante nas décadas de 1960 e 1970, notável principalmente por ser uma das poucas realizadoras mulheres ativas no gênero de filmes de exploração que traziam muitas vezes temas sensuais e controversos, mas carregado também com provocações sociais como Terminal Island de 1973.
Além dos dois filmes já citados, ela dirigiu também Blood Bath (1966), It’s a Bikini World (1967), Queen of Blood The Student Nurses (1970), The Working Girls (1974), entre outros. Porém, seu nome não está somente atrelado a direção, Rothman também é envolvida com roteirização, produção e figura importante no contexto da história do cinema, principalmente no que diz respeito às mulheres diretoras no cinema de gênero.
O filme de Rothman que falarei hoje, não é propriamente um terror, mas a meu ver e a considerar o ambiente em que aquelas mulheres estavam inseridas, não deixa de ser hostil, opressor e pavoroso. Terminal Island é mais um filme de ação e ficção científica que trabalha um futuro distópico onde a pena de morte foi abolida e as prisões estão super lotadas. A solução que eles encontraram foi transferir todos os culpados por assassinatos das prisões da Califórnia e novos condenados para um lugar chamado Terminal Island, uma ilha isolada onde os prisioneiros são deixados para sobreviver por conta própria. É uma mistura de elementos de prisão, sobrevivência e vingança, e aborda questões sociais e éticas. Apesar de não ser muito conhecido, Terminal Island é lembrado por seu estilo único e é um filme interessante para os fãs do gênero.
Neste lugar, mulheres, em menor quantidade, se misturam a homens e são exploradas por eles, forçando-as a trabalhar de dia e a transar com eles durante a noite. Quem ousa se rebelar, ou é expulso dessa comunidade ou é morto. É quando chega Carmen, uma mulher negra que foi deixada na ilha e recebida já por dois cadáveres deixados na praia. Quem a recebe, ainda longe do acampamento geral, é o Dr. Milford, um Tom Selleck jovem e ainda sem seu bigode característico de Magnum (1980-1988). Ele tenta alertá-la para o que estar por vir, mas ela só sente mesmo a pressão quando chega lá e é recebida por Monk, um cara negro forte e espécie de capataz de Bobby, o chefão do lugar. Bobby manipula todos e principalmente Monk, onde mantém uma relação de confiança. Bobby também tem sua amante favorita e única, Bunny, tida por todos como perdida mentalmente e não fala desde que matou os pais e foi condenada para a ilha. Ainda tem Joy Lang, Lee Phillips, Chino, Roy, Vander, entre outros.
O imbróglio começa quando o grupo dissidente, que foi expulso do acampamento de Bobby e vivem como nômades na ilha para não serem achados e mortos pelo outro bando, liberta as mulheres de Bobby enquanto elas lavavam roupa no riacho. O pequeno bando é comandado por A. J. Thomas e parece ser mais unido e empático que o outro bando. É a partir daí que uma guerra começa entre as duas facções de prisioneiros, lutando entre si e pelo controle da ilha.
Os comentários sociais trazidos pelo roteiro são ótimos, assim como a maioria das atuações. Foi a partir desse filme, que muitos atores partiram para grandes momentos de suas carreiras como Tom Seleck e Roger E. Mosley. Mesmo sendo um filme de exploração dirigido por uma mulher, em determinados momentos não foge dos clichês já trazidos pelo gênero realizados por homens, mas há de se reparar em cuidados com as personagens femininas como autonomia e pro-atividade. Elas não são apenas figuras frágeis e manipuladas por homens exploradores, até porque nem dá para ser assim num ambiente daqueles. Se, se deixam ser manipuladas, é pela própria sobrevivência, até perceberem que dá para enfrentar sim seus algozes, como faz uma delas quando arma uma vingança com um dos homens que tentou violentá-la.
O tema é pesado, mas ainda assim dá para se divertir. Você acaba de ver e fica pensando no que acabou de assistir. Aqueles personagens sendo colocados em um ambiente e obrigados a sobreviverem, mesmo já estando mortos para o estado, gostei disso. E gostei também das soluções que cada grupo foi arranjando para conseguirem prosperar naquela ilha hostil. O grupo expulso do acampamento, por já terem sofrido humilhação e opressão, me pareceu mais aberto, sensato e cuidadoso para com os outros.
Já falei da importância de Rothman na direção e de seu pioneirismo na representatividade de mulheres diretoras, mas vai além disso. Ter uma mulher como Stephanie Rothman, dirigindo um filme de ação, desafiou as normas da época e contribuiu para a diversificação da indústria, abrindo caminho para mais mulheres no campo da realização cinematográfica, assim como foi também, um passo importante na representação das perspectivas e sensibilidades feministas no cinema, já que a trama é contada através dos olhos das quatro mulheres que acabam revelando conhecimentos importantes para dar fim e ganhar a batalha pela ilha e sobrevivência. Seu olhar permitiu essa abordagem mais equilibrada e diversificada dos personagens e das histórias, que muitas vezes foram moldados por diretores masculinos. A partir daí, ela conseguiu, acredito eu, inspirar outras mulheres que aspiravam carreiras nessa indústria. Sua conquista mostrou que as mulheres podiam ter sucesso na direção de filmes de qualquer gênero.
Portanto, a importância de uma mulher na direção de um filme como Terminal Island na década de 1970, está ligeiramente ligada à quebra de estereótipos de gênero, à diversidade e à inspiração que ela proporcionou a outras mulheres interessadas em seguir carreiras na direção de filmes. Isso representou um avanço significativo no campo do cinema.
Por último, reforço minha recomendação a este filme que, repito, não é propriamente um terror, mas carrega elementos do gênero e ainda traz uma carga utópica sobre redenção e sociedade perfeita. Vale muito!
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