Eu achava que minha cota de filmes ruins para este mês tinha se encerrado com O Exorcista: O Devoto, mas eis que papai do chão coloca no meu caminho Halloween: Ressurreição e diz com sua voz cavernosa: “Prove agora que você é fã de terror e veja esse filme até o fim”. Missão foi dada e não só vi inteirinho, como estou aqui agora escrevendo sobre ele, porém, a que custo?
Depois que Laurie Strode pensou ter matado Michael Myers em Halloween H20, ela foi internada em um hospital psiquiátrico e enquanto vemos cenas dela fingindo estar catatônica pelo trauma de ter matado a pessoa errada, duas enfermeiras e um paciente fã de serial killers usando máscara de palhaço vai nos explicando os motivos do título ser Ressurreição e de considerar como partes da trama o de 78, o 2 e o H20. Acho que um dos prólogos de filmes de Halloween mais bregas e toscos, quiçá de todo o gênero.
Quem dera as tosquices se limitasse ao início do filme, né? Mas, mesmo Larry Brand, o roteirista deste filme, tendo gostado desta introdução por achar que sua ideia principal foi mantida, é um palmface atrás do outro. Ainda na instituição em que Laurie está, Michael Myers toca o terror por lá até ter o encontro com o bicho papão onde fica cara a cara e com a chance novamente de matá-lo, mas ao invés disso, é ele quem a mata e enquanto ela cai do telhado do hospital, diz para Michael que o encontrará no inferno. Fim de Laurie no Halloween. Ou que se pensava ser.
Acabou o prólogo e agora temos a historinha do reality, com seis estudantes sendo selecionados para um programa de tv comandado por Freddie Harris (Busta Rhymes) e Nora Winston (Tyra Banks) onde irão passar uma noite na casa dos Myers na tentativa de descobrir o que teria acontecido para Michael ter se tornado um assassino. Cada um deles com uma câmera portátil acoplada na cabeça transmitindo tudo ao vivo, só que não demora, eles percebem que o próprio Myers está dentro da casa em carne, osso, máscara branca, cabelo acaju e sobrancelha de hena. Entretanto, o que poderia ter sido uma ideia interessante em que eles mesmos e o público já não saberiam mais o que seria real ou encenado, acaba se tornando maçante, tedioso, risível e inútil. Entende-se o porquê da Jamie Lee ter aceitado voltar a franquia, pois coitada, percebeu que morrer seria a única solução de se livrar do que estava se tornando a franquia.
Ressurreição é um filme que acompanha muito as tendências e discussões do que acontecia no final dos anos 90 e início dos anos 2000 com os reality em alta e os filmes de como A Bruxa de Blair (1999) e Pânico (1996) ainda bombando nas discussões. Larry Brand em entrevista enfatiza muito isso em seu roteiro original, que na verdade, quando foi apresentado para o Moustapha Akkad, cineasta produtor da franquia original Halloween e grande defensor da essência original do Myers, nem incluía o personagem de Myers, ele só queria fazer algo que gerasse discussão sobre como consumimos esse tipo de programa, no entanto, em conversas com o produtor, ele foi adaptando seu roteiro até chegar em algo que seria meio metalinguístico com o título “MichaelMyers.com”. Só que o roteiro foi sendo readaptado e reestruturado e outros títulos foram surgindo como “Halloween: The Homecoming” até chegar no escolhido final, já que a ideia dos produtores era deixar claro que Myers estava de volta. Enfim, um monte de decisão de um monte de gente querendo acertar, mas pelo visto, erraram.
Rick Rosenthal volta à franquia neste oitavo filme como diretor, ele já havia dirigido o 2 e, apesar dos esforços (acho que não se esforçou muito) de sustos e movimentos de câmera, tudo passa a impressão de estarmos vendo o mais do mesmo, ou pior, uma paródia do próprio Halloween. Até teria sido mais interessante se tivessem assumido esse tom, pois em dois momentos do filme eu consegui rir genuinamente e não de vergonha ou constrangimento. Quando dois Michael Myers estão frente a frente e o falso Michael dá umas palavras de ordem para o verdadeiro que simplesmente vira as costas e vai fazer o que o outro mandou. Outro momento é quando Busta coloca em prática todo seu fanatismo por filmes de kung fu e ataca Myers com golpes que o derrubam. E aí temos mais uma tentativa de repetir a participação de rappers em filmes de terror, como foi no anterior com Coolio. Mas eu até gostei de ver que ele não morre no final, mesmo sendo um idiota que só estava pensando em audiência e dinheiro, pouco se importando se estava colocando seus próprios amigos em risco.
O filme ainda contou com três finais alternativos e a ideia de Rosenthal era que a produção distribuísse as cópias com os finais diferentes como aconteceu com Os Suspeitos (1995), mas aí não compraram a ideia e num desses finais o personagem de Rhymes morreria e acabou que ficou aquele final mesmo de Myers acordando no necrotério.
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Fazendo esse EDIT aqui para me despedir do blog, dos companheiros e companheiras de empreitada e de vocês, leitores, que acompanharam a gente até o ultimo texto. Vocês que ajudaram a divulgar cada post, curtindo, comentando, compartilhando e assistindo junto com a gente aos filmes indicados.
Aproveito para agradecer também aos colaboradores convidados que tiraram um tempinho para escrever: Yasmine Evaristo, Maitê Mendonça, Emanuela Siqueira, Dani Haangi, Fabrina Martinez, Clara Gianni, Tiago Miranda, Emanuel Cantanhede, Renato Galavotti, e Atila Joly.
Até mais, gente!
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